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2006-10-20
A Rede Ecovida de Agroecologia e entidades parceiras lançaram nesta quarta-feira (18/10) um manifesto em defesa das sementes crioulas e contra os transgênicos para pressionar a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) a não liberar o plantio comercial do milho geneticamente modificado no Brasil, que está sendo analisado pela comissão. O lançamento do manifesto aconteceu ontem durante a Feira de Sementes Crioulas, realizada no Setor de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Capital, como parte das comemorações da Semana Mundial de Alimentação.

A semente crioula é modificada ao longo dos anos sem passar por processos químicos. Segundo o agricultor do município da Lapa, Luiz Carlos Schmidt Bueno, as sementes crioulas são cultivadas por agricultores familiares e são melhoradas através de processos de cruzamento entre as variedades no decorrer dos anos. ""As sementes vão se adaptando às mudanças climáticas com o tempo"", disse. Segundo ele, através deste procedimento é possível realizar alterações como diminuir a altura da planta, fazer avaliação de doenças com 30 dias de florescimento e aumentar a produtividade.

De acordo com Bueno, as entidades que estavam reunidas ontem em Curitiba, são contra os transgênicos porque acreditam que estes produtos representam uma ameaça à biodiversidade. ""Não existem pesquisas suficientes dos transgênicos que apontam que eles não vão ter problemas. Não precisamos de transgênicos na agricultura familiar que já tem muitas variedades de sementes"", afirmou. Bueno destacou que no Paraná há 130 variedades de sementes de milho, 50 de batata, 130 de feijão e 30 de arroz.

Ele destacou que as sementes crioulas promovem a independência dos agricultores. Isso porque estas sementes custam menos de R$ 1 o quilo, 10% do valor que custaria se o agricultor fosse comprar no mercado.

Seminário
A Rede Ecovida de Agroecologia também promoveu ontem um seminário com o tema "Investir na agricultura familiar e ecológica para garantir Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável".

A professora do Departamento de Nutrição da UFPR e vice-presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, Sílvia do Amaral Rigon, destacou que os agricultores familiares produzem a maior parte dos alimentos consumidos pela população. Ela disse que apesar dos avanços do Pronaf, ainda há pouco apoio governamental para a agricultura familiar. Silvia destacou que a agricultura ecológica é realizada sem o uso de insumos químicos e procura estar em sintonia com os processos da natureza.

Segundo, o Engenheiro Florestal da Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia (Aopa), Julian Perez, a proposta do evento é trabalhar a agroecologia como promotora da segurança alimentar. "Os alimentos de qualidade estão diretamente ligados à questão da agroecologia, livres de contaminação e mais ricos em nutrientes", garante. A agroecologia também estimula a diversificação, além de resgatar a cultura alimentar e promover a biodiversidade.

Com a agricultura agroecológica o país teria a possiblidade de produzir alimentos saudavéis para a grande parcela da população, que sofre com falta de alimentos. "Temos várias experiências agroecológicas sendo trabalhadas, que garantem o auto-consumo e o aumento de renda dos agricultores, além de uma alimentação que contribui com as questões sociais e ambientais", explica, Sílvia Rigon.

Movimentos entregam carta ao presidente
Movimentos sociais e organizações da sociedade civil entregaram ontem uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manifestar a discordância em relação à Medida Provisória que deve ser assinada nesta semana para permitir o plantio de transgênicos nas zonas de amortecimento das Unidades de Conservação.

A Medida Provisória modifica o artigo 11 da lei 10.814/2004, que proíbe o cultivo da soja transgênica nas zonas de amortecimento das Unidades de Conservação, diminuindo de 10 quilômetros para apenas 500 metros a distância do plantio de transgênicos dos limites das Unidades de Conservação. De acordo com a carta "se a notícia for verdadeira, mais uma vez, o governo Lula estará cedendo diante das ilegalidades cometidas por produtores rurais irresponsáveis e por transnacionais de biotecnologia e demonstrando a falta absoluta de firmeza com o cumprimento das normas de biossegurança no Brasil. Esta atitude, mais uma vez põe em dúvida o compromisso do Governo com a construção de uma Política de Biossegurança séria."

A carta foi assinada pelos Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento Sem Terra (MST), Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), Fórum Brasileiro de Organizações não governamentais e Movimentos Sociais (FBOMS), Rede Ecovida de Agroecologia, Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (ASPTA), Associação de Agricultura Orgânica (AAO), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Greenpeace Brasil, Fetraf e Terra de Direitos.

A assessora jurídica da Terra de Direitos, Maria Rita Reis, destacou que a soja transgênica foi liberada no Brasil sem o estudo de impacto ambiental ou avaliação de risco à saúde e ainda através de Medidas Provisórias.
(Por Andréa Bertoldi, Folha de Londrina, 19/10/2006)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=20359LINKCHMdt=20061019

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