Crianças do Projeto Peixe Dourado, uma das tantas iniciativas de educação ambiental no Vale do Sinos (RS), permitiram ontem (19/10) uma clareira de comoção e reflexão em meio ao nervosismo reinante na reunião do Comitê da Bacia do Rio dos Sinos (Comitesinos), em São Leopoldo (RS), onde seriam divulgados nomes de seis empresas apontadas como apresentando irregularidades em seus tratamentos de efluentes e que, segundo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), contribuíram para a morte maciça de peixes no rio, há quase duas semanas.

Leia o texto da Carta de Outubro, lida por uma das meninas integrantes do projeto:

"O rio dos Sinos e seus formadores não estão morrendo. Quem morre, a cada dia, é a sua alma, morada da vida, morada das nossas vidas.

No silêncio das águas, que só dão ouvidos para o canto das aves noturnas, há uma luta desigual pela sobrevivencia: peixes e microorganismos superando desafios da pesca predatória, da destruição dos habitats existentes nas áreas de banhados, da nudez vergonhosamente exposta das margens desprotegida da mata ciliar.

Mudamos o curso, não da história, mas dos canais naturais onde vertiam águas límpidas. Afogamos com lixo nascentes e olhos d água, sem derramar uma lágrima que possa, pelo menos, nos fazer lembrar que somos humanos. Das nossas águas, tudo tiramos, devolvendo-lhes, sem qualquer gratidão, os restos de que não gostamos.

Joga esgoto, joga lixo, e por que não te joga tu, bicho humano, no universo da sabedoria, seguindo a liturgia dos rios que preservam a vida?

E quem, afinal, mata a alma do nosso rio, morada da vida, morada das nossas vidas? Não é o meu vizinho, não é o meu irmão, não é o meu amigo. Olhando o reflexo que o espelho destas águas tão poluídas denuncia, ainda consigo me ver e enxergar o meu, o teu, o nosso verdadeiro inimigo. Somos nós, a população que vive e trabalha nesta bacia, que estamos destruindo a morada das nossas vidas.

Comissão Permanente de Assessoramento do Comitesinos
19 de outubro de 2006."
(Comitesinos, 19/10/2006)