Aquecimento global pode criar massa de refugiados
2006-10-20
O mundo não está fazendo o suficiente para combater o aquecimento global que, se não for contido, poderá desencadear um movimento em massa de pessoas e ter sérias consequências para a segurança, alertou na quinta-feira o chefe do setor ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em entrevista à Reuters, Achim Steiner, diretor-executivo do Programa Ambiental da ONU, levantou a possibilidade do surgimento de refugiados do clima e falou sobre as enormes consequências que isso poderia causar.
Especialistas dizem que milhões de pessoas em áreas densamente povoadas, em territórios baixos de países em desenvolvimento, como Bangladesh e partes da China, Indonésia e do Vietnã, podem ser forçadas a mudar-se devido ao aumento dos níveis do mar. Em algumas ilhas do Pacífico Sul isso já começou a acontecer.
"Se a tendência do aquecimento global continuar como está neste momento...isso terá impacto significativo nos locais onde as pessoas podem viver e produzir alimentos." “Teremos disseminação de doenças e isso terá consequências em termos de comércio global", afirmou Steiner, em entrevista durante um fórum de proteção marítima, em Pequim. Segundo o diplomata, que assumiu o cargo em junho, "o potencial para conflito a partir das consequências do aquecimento global é uma grande tendência que vemos agora".
CORAIS
Uma área especialmente ameaçada pela mudança climática e pelo aumento das temperaturas é a de corais, importante fonte de turismo e pesca, a qual, segundo estimativa da ONU, tem valor econômico anual de 30 bilhões de dólares. Desde o final dos anos 1990, quando o fenômeno incomum de altas temperaturas das águas matou até 90 por cento dos corais em algumas partes do mundo, foram registrados sinais de recuperação, de acordo com um novo relatório da ONU divulgado nesta quinta-feira.
Mas a recuperação dos corais depende de águas limpas, e na Ásia e no leste da África até 90 por cento do esgoto é despejado diretamente em rios e no mar, diz o relatório. Ministros do ambiente de diversos países do mundo reúnem-se no próximo mês em Nairóbi, capital do Quênia, para debater a mudança climática e estudar maneiras de mapear cortes a longo prazo de emissões de gases do efeito estufa, já que a primeira fase do pacto de Kyoto termina em 2012.
O encontro sobre o pacto de Kyoto realizado em Montreal, no Canadá, no ano passado, não estabeleceu prazos para negociações, mas alguns países querem um calendário mais claro para a nova fase de cortes. "Acho que os países industrializados e em desenvolvimento estão se aproximando de um ponto em que reconhecem que o tempo para impasses realmente acabou", disse.
"Nairóbi será um teste sobre a seriedade dos governos sobre este desafio", acrescentou Steiner. "É reconhecido mundialmente que a mudança climática está ocorrendo, que o aquecimento global está acontecendo e que precisamos agir", disse o Steiner, que nasceu no Brasil e tem cidadania alemã.
(Reuters, 19/10/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=15660&iTipo=5&idioma=1