As imagens de peixes mortos no Rio dos Sinos juntam-se àquelas já publicadas mostrando o
leito do Rio Gravataí tomado por pneus e o Guaíba coberto com manta de algas. São eventos
extremos que acentuam uma realidade vivida por nossos mananciais de água - o recebimento de
cargas de contaminantes acima de suas capacidades de depurá-las. Como permitimos que rios que
servem de fonte de abastecimento de água para cidades e indústrias, de irrigação para
agricultura, de recreação para as pessoas e de hábitat para ecossistemas tenham atingido tal
grau de poluição?
Nos últimos 30 anos, o trabalho pioneiro iniciado pela Fepam obrigou as indústrias a
implantarem sistemas de tratamento de efluentes. Algumas indústrias visualizaram a
oportunidade de tornarem seus processos industriais mais eficientes, eliminarem desperdícios,
recuperarem matéria-prima e, até mesmo, reutilizarem os efluentes tratados. Contudo, uma outra
parcela manteve a visão de que o tratamento de efluentes é apenas uma obrigação a ser cumprida
para atender à legislação e evitar multas. Estações de tratamento operadas com este enfoque
apresentam, quase sempre, baixa eficiência, contribuindo para a poluição dos rios.
O Brasil passou por um processo de urbanização intensa, com as cidades recebendo populações
rurais em busca de melhores condições de vida. As cidades incharam sem que houvesse a
implantação de infra-estrutura de saneamento que pudesse absorver esse crescimento.
Infelizmente, os investimentos necessários para implantar os sistemas de esgotos das cidades
não conseguem prioridade nas políticas públicas frente a outras demandas, como educação e
segurança. Isto é um equívoco, porque os benefícios econômicos do saneamento básico superam
seus custos em até oito vezes.
Embora esgotos sanitários e efluentes industriais sejam grandes responsáveis pela poluição dos
rios, eles não são os únicos. Por ocasião das chuvas, os sistemas de drenagem urbana carreiam,
até os corpos hídricos, resíduos dos sistemas de transporte viário e lixo que se encontram
depositados sobre as ruas e pavimentos. Além de contribuir com a poluição, o lixo agrava as
enchentes urbanas ao depositar-se sobre os leitos dos arroios, diminuindo suas seções de
escoamento.
Planos Diretores de Saneamento Ambiental são instrumentos que podem ajudar os municípios a
estabelecerem metas e planejarem investimentos nas áreas de abastecimento de água, esgotamento
sanitário, resíduos sólidos e drenagem urbana. Possibilitam, também, maior acesso às fontes de
financiamento para obras de saneamento. Em conjunto com a aplicação da legislação estadual de
controle da poluição industrial, podem auxiliar na reversão do quadro de degradação ambiental
observado em nossos rios.
Antônio D. Benetti é orofessor de engenharia sanitária e ambiental do IPH-UFRGS
(
Zero
Hora, 19/10/2006)