Limitação de computadores pode trazer testes nucleares de volta
2006-10-19
Enquanto a Coréia do Norte testava sua bomba nuclear, a França também verificava suas armas atômicas - com um batalhão silencioso de calculadoras negras, do tamanho de armários, escondidas no subsolo. As potências nucleares estabelecidas do mundo abandonaram, nos últimos 10 anos, as explosões de teste no mundo real e adotaram os testes atômicos virtuais, usando os computadores mais poderosos do mundo para simular o que ocorre quando uma bomba é detonada.
Então, que motivos teria qualquer país do mundo para realizar um teste atômico, se supercomputadores podem fazer o serviço? De acordo com especialistas, o problema é que imitar a "coisa" acabou se mostrando muito mais difícil do que se imaginava.
Cientistas que trabalham na instalação secreta de Bruyeres-le-Chatel, ao sul de Paris, ainda precisarão de vários anos para replicar uma fusão nuclear, a reação que ocorre nas bombas de hidrogênio, ou testar um novo modelo de arma nuclear em escala totalmente virtual. Os americanos não estão muito á frente, a despeito de bilhões de dólares investidos em grandes computadores e lasers.
"Ainda não estamos lá", disse Don Johnston, porta-voz dos programas de supercomputação do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, uma base de testes nucleares dos EUA. "Quanto mais descobrimos, mais percebemos que não sabemos". O teste nuclear subterrâneo da Coréia do Norte, na semana passada, causou comoção internacional e atraiu atenção para os esforços de simulação.
Na arma nuclear mais básica, como a usada em Hiroshima, duas cargas de urânio enriquecido se chocam, criando uma massa crítica, que leva à reação em cadeia de fissão nuclear. A maioria das armas nucleares contemporâneas são dispositivos de implosão, no qual explosivos convencionais cercam um núcleo radioativo. Detonados, esses explosivos comprimem o núcleo, gerando um estado supercrítico.
Embora os computadores não possam imitar o calor e a pressão desses processos, ao realizar trilhões de cálculos por segundo, as máquinas prevêem como as armas se deformarão com a idade. Isso é valioso para forças armadas com enormes estoques de bombas nucleares.
Ativistas concordam que a simulação é melhor que uma explosão real ao ar livre, mas afirmam que o desarmamento é a melhor opção. Mike Townsley, do Greenpeace, declarou-se preocupado com uma retomada dos testes reais, caso os computadores não consigam acompanhar o arsenal.
A França realizou seus últimos testes nucleares em 1995 e 1996, antes de se dedicar às simulações em tempo integral. Índia e Paquistão testaram armas atômicas nos anos 90. Nenhum outro teste havia ocorrido desde então. Dezenas de países assinaram o Tratado Amplo de Proibição de Testes Nucleares, de 1996, mas ainda faltam assinaturas para pôr o acordo em vigor. Recusam-se a assinar, entre outros, EUA, Índia, Paquistão e Coréia do Norte.
(AP, 18/10/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/out/18/191.htm