Famílias dizem que fuligem da usina de asfalto causa surto de doença respiratória em Roraima
2006-10-18
Usina de Asfalto funciona sem filtro e causa poluição atmosférica. De acordo com um levantamento recentemente realizado no bairro Brigadeiro, a área possui mais de três mil crianças, muitas recém-nascidas. Elas são as maiores vítimas de doenças respiratórias e outros distúrbios, inclusive doenças de pele, devido ao contato com a fuligem lançada diariamente pela chaminé da Usina de Asfalto durante o dia.
De acordo com os moradores, a usina entra em funcionamento às 7h e pára por volta das 00h, de forma que todos respiram os resíduos levados pelo vento. A água fica poluída, bem como a comida contaminada e as roupas sujas. Os moradores sentem ardor nos olhos e distúrbios intestinais, além de sentir um sabor ruim dos resíduos na comida.
“Nada escapa: a água, a comida, as roupas. A gente come com gosto de terra. As crianças passam mais tempo no hospital do que em casa devido às bronquites. O médico disse que meu filho só ficará sarado se sairmos daqui”, contou a dona-de-casa Miriam Pimentel, 29, mãe de três filhos.
Mas não só as crianças adoecem com a fuligem. Os idosos também são vítimas do ar poluído. A aposentada Maria Pereira, 63, disse sentir muitas dores na barriga. “Muitas vezes adoeci de diarréia. E sinto muitas dores de cabeça e nos olhos, é um sofrimento. Mas não temos para onde ir”, comentou.
O morador Gleidivan Sampaio contou que o filho de 12 anos foi internado com doença de pele. “Saíram muitas bolhas no corpo dele e tivemos que ir às pressas para o hospital. O médico constatou que a doença foi ocasionada do contato da pele com a fuligem vinda da usina”, disse.
As reclamações foram inúmeras durante um encontro de duas horas, principalmente por causa da usina, que está funcionando sem um filtro na chaminé, o que ocasiona a saída da fuligem.
PMBV - A Secretaria Municipal de Obras, responsável pela manutenção da Usina de Asfalto, informou que a fábrica foi construída atendendo a todas as normas de segurança e ambientais, inclusive respeitando o espaço mínimo do perímetro urbano.
O problema, segundo a secretaria, se deve ao fato de a área ter sido ocupada de maneira ilegal, próximo à Usina de Asfalto e das lagoas de estabilização da Caer (Companhia de Águas e Esgotos de Roraima), sem que estes ocupantes tivessem a preocupação com as condições sanitárias a serem enfrentadas.
Informou ainda que a usina nunca possuiu filtro por ser uma fábrica de pequeno porte, mas que devido à ocupação da área já estão sendo feitas pesquisas junto aos fabricantes para a aquisição de um, peça que além de um alto custo terá que ser adaptada à realidade da usina. A previsão para a compra e instalação do mesmo é somente para o ano que vem.
(Folha de Boa Vista, 17/10/2006)
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