Cuidar do lixo amplia qualidade de vida em reassentamento
2006-10-18
O trabalho de coleta seletiva já faz parte da rotina da dona de casa Benigna dos Santos, de 72 anos. Moradora do Reassentamento Rural Fazenda Santo Antônio do Rio do Peixe, no município de Caiuá, no oeste paulista, ela separa todos os dias o lixo reciclável - papel, plástico, vidro e metal - do não reciclável, como restos de comida.
Este trabalho de coleta seletiva em reassentamento rural é pioneiro no Brasil e surgiu de uma parceria entre a Associação de Produtores Rurais do Reassentamento Santo Antônio do Rio do Peixe, Companhia Energética de São Paulo (Cesp), Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp) e Prefeitura de Caiuá. No dia 25 de cada mês é feita uma coleta do lixo já separado, ação batizada de Patrulha Ecológica.
Benigna é uma das primeiras pessoas a colocar, diante da porta de casa, as sacolas com os detritos separados. De acordo com o presidente da associação, Antônio Melo da Silva, a idéia da coleta seletiva surgiu quando uma vaca morreu após ter ingerido uma sacola plástica que estava solta no pasto. “A partir daquele problema, surgiu a preocupação com a conscientização dos moradores do local e a limpeza ambiental”, afirma Silva.
Segundo dados da associação e da Cesp, em setembro do ano passado 86% dos beneficiários participaram da coleta. No mesmo período de 2006, o número subiu para 91,1% dos moradores coletando lixo. Em todo o ano passado, foram coletados 4.128 quilos de detritos recicláveis e não recicláveis. “Esse material era jogado no meio ambiente ou queimado. Com o tempo, poderia comprometer o lençol freático”, diz o presidente da entidade. Outro aspecto considerado é o tempo de decomposição dos materiais, que pode chegar a séculos.
A coleta é feita pelos próprios beneficiários, escalados em forma de revezamento para a realização da patrulha. A atividade tem sido supervisionada por funcionários da Cesp. Cada uma das 50 famílias do reassentamento participa da separação do material. “Com isso, eles se tornaram agentes ambientais”, explica Silva.
Com o dinheiro arrecadado por meio da venda dos produtos para reciclagem, os beneficiários desenvolvem vários projetos, como cursos profissionalizantes, artesanato e atividades de lazer, realizados em parceria com o Sindicato Rural de Caiuá. O lixo não reciclável é transformado em adubo.
Para o gerente de reservatório da Cesp, Cláudio Luiz Peretti, a primeira preocupação da empresa foi agregar qualidade de vida às preocupações ambientais dos moradores. “Além de proporcionar melhores condições de vida para essas pessoas, a coleta seletiva consolidou o associativismo no reassentamento”, afirma Peretti.
O prefeito de Caiuá, Paulo Sérgio Pinto de Souza, ressalta a limpeza do bairro rural. “É um local diferenciado. Além da limpeza, os moradores são conscientes com a separação do lixo.” A prefeitura fornece os sacos de lixo usados na coleta.
(Por Carolina Oliveira, O Estado de S. Paulo, 17/10/2006)
http://www.estado.com.br/editorias/2006/10/17/ger-1.93.7.20061017.13.1.xml