Presença de chumbo no leite materno reforça necessidade de investigar fontes de contaminação
2006-10-17
Pesquisa feita com 76 mães de recém-nascidos em Taubaté (interior de São Paulo) identificou uma média de 154 microgramas de chumbo por litro (µg/L) de leite materno produzido nos primeiros sete dias de vida da criança (colostro). Os dados, obtidos pelo médico pediatra Luiz Fernando Costa Nascimento, reforçam a necessidade de estudos sobre as fontes de contaminação, em especial na alimentação das mães.
O leite materno foi recolhido em mães que tiveram filhos no Hospital Universitário de Taubaté, entre um e dois dias após o parto. "Na gestação e nos primeiros dias de vida dos bebês, o chumbo acumulado nos ossos é mobilizado e chega ao leite da mãe pela corrente sanguínea", conta o médico, que é pesquisador da disciplina de Informática Médica da Faculdade de Medicina (FM) da USP. "Após esse período, o nível de chumbo cai notavelmente e chega a níveis não detectáveis."
As amostras de leite foram submetidas à técnica de espectroscopia de absorção atômica em forno de grafite para que fossem identificados os teores do metal. "Em média, foram encontrados 154 µg/L de chumbo", relata o pesquisador. "Entretanto, em 70,6% das amostras, este nível ficou abaixo de 60 µg/L de colostro, média encontrada em um estudo semelhante realizado na Cidade do México, que apresenta elevados índices de poluição."
De acordo com Nacimento, professor de Medicina na Universidade de Taubaté (Unitau), o maior valor encontrado na pesquisa foi de 300µg/L de chumbo no leite materno. "Nas amostras de quatro mães não foram encontrados traços do metal", ressalta.
Fontes
O pesquisador aponta que não existem estudos sobre o valor máximo de chumbo admitido no colostro. "A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta um máximo de 5µg/L, mas especificamente para o leite materno maduro, produzido 30 dias após o nascimento", explica. "Com o acúmulo de chumbo nos ossos dos bebês, os danos à saúde podem se manifestar à longo prazo, nos rins e no sistema nervoso."
A fonte mais provável da contaminação, observa Nascimento, é a ingestão de alimentos com altos teores de chumbo. "A pesquisa mostrou baixo consumo das fontes habituais do metal, como vinhos, peixes e ostras, por isso o mais provável é que o chumbo esteja, por exemplo, contaminando a água usada na irrigação de hortaliças."
Outra possibilidade é a exposição das mães a partículas do metal na atmosfera, originárias da combustão de gasolina. "A média de idade das mães pesquisadas é de 24,8 anos, ou seja, muitas já eram nascidas antes da proibição do uso de chumbo tetraetila no combustível", diz o médico.
"Os poluentes entram no corpo por meio da respiração e também pela ingestão de alimentos contaminados, acumulam-se nos ossos e são mobilizados pela corrente sanguínea durante a gestação e a lactação". Os testes de espectroscopia foram realizados na Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP, sob a supervisão do professor Hélcio Izário Filho.
Mais informações: e-mails lfcn@unitau.br ou lfcn@dim.fm.usp.br, com Luiz Fernando Costa Nascimento. (Agência USP, 16/10/2006)
www.usp.br