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2006-10-17
O avanço dos biocombustíveis na matriz energética brasileira abrirá oportunidades para os pequenos negócios relacionados à agricultura familiar. A avaliação é do professor Ignacy Sachs, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris, que abriu nesta segunda-feira (16/10) o seminário “Agroenergia e Pequenos Negócios”, que termina hoje (17/10), em Brasília. “Os empregos e as oportunidades para os pequenos negócios já estão surgindo em áreas como produção de matérias-primas, no seu processamento e no aproveitamento dos subprodutos”, apontou.

O seminário “Agroenergia e Pequenos Negócios” está sendo promovido pela Unidade de Agronegócios e Territórios Específicos do Sebrae Nacional. O evento reúne especialistas no tema, representantes de instituições governamentais, empresas privadas e dirigentes e gestores de projetos de agroenergia nas unidades estaduais do Sebrae. O objetivo é compartilhar informações para fortalecer dentro do Sistema Sebrae as ações de inserção da agricultura familiar nos negócios que serão gerados a partir do aumento da participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.

Sachs, que participou do painel “Matriz Energética Brasileira – A importância da Agroenergia”, lembrou que as sucessivas oscilações no preço do petróleo acabaram por colocar a questão da bioenergia definitivamente na pauta mundial. “Nos Estados Unidos e no Brasil essa questão já uma janela de oportunidades”, assinalou. “E as condições já estão dadas para se avançar no caminho do fortalecimento da bioenergia”, acrescentou.

Para ele, o Sebrae pode ter papel importante na elaboração e na inserção dos pequenos negócios dessa cadeia. Primeiro, estruturando parcerias com instituições governamentais e empresas que já atuam na área com vistas à criação de programas diferenciados, que incluam a agricultura familiar. Depois, criando um ambiente que fortaleça as relações entre as pequenas e as grandes empresas que já atuam ou passarão a atuar nessa área. “O comércio justo entre cooperativas de produtores de biocombustíveis e cooperativas de consumidores desses produtos também pode ser uma alternativa viável”, destacou.

O professor avaliou, no entanto, que algumas questões devem ser observadas para não excluir a agricultura familiar dessa cadeia produtiva da agroenergia. Uma delas está relacionada ao tipo de matéria-prima a ser usada na produção do óleo combustível de origem vegetal. Segundo ele, caso se priorize a soja, é possível que a agroenergia não tenha o mesmo potencial de geração de empregos na agricultura familiar como têm mamona, pinhão-manso, girassol, dendê, babaçu e até mesmo amendoim.

“Se for a soja a principal única alternativa de matéria-prima para produção de biocombustíveis no Brasil, não vamos enxergar trabalhadores no campo, mas apenas máquinas agrícolas”, afirmou Sachs. “E não é possível que, em função da necessidade de expandir a agroenergia, o País transforme seus campos novamente em oceanos de monocultura”, acrescentou.

Também participaram do painel “Matriz Energética Brasileira – A importância da Agroenergia” Ricardo Dornelles, diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia; Edna Carmélio, coordenadora de Biocombustíveis do Ministério do desenvolvimento Agrário; Frederique Abre, coordenador geral de Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e Adriano Duarte Filho, coordenador geral de Tecnologias Setoriais do Ministério da Ciência e Tecnologia. O coordenador do painel foi Juarez de Paula, gerente da Unidade de Agronegócios e Territórios Específicos do Sebrae.

Estratégias
Para o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza, que também participou da abertura do seminário “Agroenergia e Pequenos Negócios”, o evento é um espaço para a Instituição refletir sobre as estratégias a serem adotadas para ampliar a inserção dos pequenos negócios no mercado dos biocombustíveis.

“Aqui temos representantes de instituições e empresas que estão trabalhando diretamente com este tema e por isso temos aqui dados importantes para o processo de tomada de decisão no Sistema Sebrae”, disse. “Nosso objetivo é potencializar as oportunidades e minimizar possíveis riscos e impactos”, acrescentou.

Atualmente, há no Sistema Sebrae dois projetos em andamento na área da agroenergia. Outros seis projetos em quatro estados (Bahia, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo) estão sendo formatados. Um dos projetos do Sebrae já em andamento teve início em 2004, no Piauí. O outro, em Alagoas, foi recentemente aprovado. Os projetos envolvem agricultores familiares e cooperativas de produtores que comercializam para usinas de biodiesel.

No Piauí, os agricultores familiares são atendidos pelo projeto “Agronegócio da Mamona”, que envolve quase 30 municípios da microrregião de São Raimundo Nonato. Ao todo, 2,5 mil agricultores familiares do semi-árido recebem assistência técnica e gerencial. A produção é comercializada para a usina de biodiesel da cidade de Floriano.

Além do Sebrae no Piauí, apóiam o projeto a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab); governo federal, Banco do Brasil, governo estadual, Comitê de Entidades no Combate à Fome e Pela Vida (Coep); Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural do Piauí (Emater-PI) e Fundação Banco do Brasil.
(Por Rodrigo Rievers, Agência de Notícias Sebrae, 16/10/2006)
http://asn.interjornal.com.br/site/noticia.kmf?noticia=5347589&canal=199

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