Da política para o abraço a árvores: após frustração de perder eleições, Al Gore se dedica ao ambiente
2006-10-17
Depois da frustração de perder as eleições presidenciais em 2002, o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, decidiu largar a política e se dedicar ao meio ambiente, coisa que já fazia desde 1992. Fez um negócio da China e hoje, além de ser sócio em um fundo de investimentos que administra 200 milhões de dólares aplicados na produção de energia sustentável, é dono de um canal a cabo especializado em assuntos ambientais e faz palestras no mundo inteiro falando de mudanças climáticas.
Sua mais nova peripécia foi lançar um filme com imagens que até então utilizava nas apresentações. O filme, que estreará em novembro no Brasil, está a quatro semanas em cartaz nos Estados Unidos e faz o maior sucesso. O livro com o mesmo nome está no topo dos mais vendidos há dois meses no jornal New York Times.
Al Gore visita o Brasil, onde participará da entrega do Prêmio Eco, promovido pela Câmara do Comércio Americana. Com a notícia de sua vinda, o ex-político pipocou nos últimos dias em diversos veículos de comunicação brasileiros. Entre as principais entrevistas estão as dadas ao Programa Fantástico da Rede Globo, Revista Época e Veja.
Nas entrevistas Al Gore fala sobre Guerra do Iraque e a indústria petroleira, possibilidades de se reeleger a presidência, o excelente negócio que é a ecologia, discute a postura do povo americano com relação ao meio ambiente, o Brasil e a Amazônia.
Em uma das entrevistas Gore diz que decidiu viver uma vida sem carbono há dois anos. Conta que sua família possui carros híbridos, usa energia verde, evita água quente e desliga aparelhos elétricos quando eles não estão sendo usados. “Claro que ainda pego aviões comerciais e vou tomar um para ir ao Brasil. Mas a minha emissão pessoal de carbono nas viagens é compensada com a divulgação que faço do tema.”
Sobre o Brasil, Gore diz que o país pode ensinar o resto do mundo a ter um melhor entendimento na solução de problemas relacionados aos combustíveis fósseis, ao elogiar o trabalho do país na produção de álcool combustível. “O Brasil não só inovou no desenvolvimento desse combustível alternativo como se tornou líder mundial dessa indústria.”
Já em relação ao próprio país, ele critica o modo como os EUA encara a questão ambiental, dizendo que seu filme e livro tem como propósito mudar a atual situação do americano visto como desinformado. “O que importa é o motivo da desinformação. As empresas petrolíferas e de carvão têm influência demais nos Estados Unidos”, declara.
Segundo ele, Bush e Cheney levaram o país para a direção errada. Porém destaca que muitos democratas resistem a mudar de postura nesse assunto, possivelmente por razões de história política e cultural. “Tem a ver com nossa "mentalidade de fronteira", que costumava significar desbravar novos horizontes. Agora isso faz parte de nosso hábito de percorrer grandes distâncias de carro.”
“O sistema funciona mais ou menos assim, se você olhar o padrão como um todo: os Estados Unidos pegam dinheiro emprestado da China para comprar petróleo no Golfo Pérsico e queimá-lo em casa de um modo que destrói o planeta. Isso não é bom. Precisamos mudar todas essas coisas.”
Apesar disso, Al Gore lembra que muitos estados americanos estão agindo independentemente na luta contra as mudanças climáticas. Cerca de 230 cidades, muitas delas com prefeitos republicanos, ratificaram independentemente o Protocolo de Kyoto. Além disso, diz que organizações populares em todos os Estados estão juntando assinaturas e se organizando. “Cada pessoa que adota um estilo de vida ecológico encoraja o governo a tomar decisões a favor da preservação ambiental.”
(Carbono Brasil,16/10/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=15572&iTipo=18&idioma=1