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2006-10-17
Além dos nove Estados declarados como, ou suspeitos de serem, potências nucleares, existem 20 a 30 outros países com capacidade para desenvolver esse tipo de armas. O alerta foi lançado ontem, em Viena, por Mohamed ElBaradei, o director da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), num momento em que o controlo da proliferação nuclear ganhou nova urgência na sequência do ensaio de uma bomba realizado pela Coreia do Norte.

"É preciso desenvolver uma nova estratégia internacional se não queremos ter mais 20 ou 30 Estados com capacidade para desenvolver rapidamente armas nucleares, em vez dos nove actuais", explicou ElBaradei. Sem fazer qualquer referência directa, o director da AIEA garantiu que alguns governos estão a "subir a parada": a tecnologia que adquirem para produzir energia nuclear irá permitir-lhes desenvolver armas num curto espaço de tempo.

A fragilidade da linha que separa um programa civil de um militar gerou o que ElBaradei considerou como "Estados nucleares militares virtuais", isto é, com conhecimentos e meios para enriquecer urânio ou produzir plutónio.

Perante 500 peritos reunidos na capital austríaca para discutir o controlo da não proliferação, o chefe da AIEA lamentou que determinados países tenham sentido necessidade de desenvolver bombas atómicas para se protegerem. ElBaradei apontou a África do Sul e a Líbia como exemplos de sucesso no desmantelamento de programas nucleares, mas admitiu o fracasso no Irão.

Para além das cinco potências nucleares reconhecidas pelo Tratado de não Proliferação (TNP) - EUA, China, Rússia, Reino Unido e Fran-ça -, dois outros países possuem armas atómicas: a Índia e o Paquistão, que realizaram ensaios nucleares em 1998. Apesar de não ter oficialmente admitido possuir a bomba, Israel é considerado como uma potência nuclear. No passado dia 9, a Coreia do Norte veio juntar-se ao grupo, ao testar uma bomba atómica.

Confirmação
O ensaio norte-coreano foi ontem confirmado pelos EUA. Segundo um comunicado dos serviços secretos americanos, "a análise das amostras recolhidas na atmosfera a 11 de Outubro detectou partículas radioactivas que confirmam que a Coreia do Norte procedeu, no dia 9, a uma explosão nuclear subterrânea nos arredores de Punggye". A fraca potência da explosão, que segundo os peritos terá sido inferior a uma quilotonelada, levantou algumas dúvidas sobre o sucesso do teste.

O ensaio foi fortemente criticado pela comunidade internacional e levou o Conselho de Segurança da ONU a aprovar uma resolução que prevê sanções contra a Coreia do Norte. O número dois do regime, Kim Yong-nam, justificou a atitude do seu país com a "crescente ameaça" de um ataque nuclear dos EUA contra a Coreia do Norte e apelou ao exército e ao povo para se mobilizarem contra o "imperialismo".

O regime do "querido líder" Kim Jong-il tem mantido o tom de desafio, apesar da crescente pressão internacional para que abandone as suas ambições nucleares e regresse à mesa das negociações. A Rússia, por exemplo, pediu ontem a Pyongyang para que dê uma "resposta adequada" à Resolução 1718. Moscovo pronunciou-se assim pela primeira sobre o texto adoptado no sábado, considerando-o como "forte, mas ponderado". Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo garantiu contudo que o reforço das sanções contra a Coreia do Norte não irá ocorrer sem uma nova votação do Conselho de Segurança.

A China, que se mostrara reticente quanto às sanções previstas na Resolução 1718, começou ontem a tomar medidas na fronteira com a Coreia do Norte, de modo a respeitar o embargo às armas, aos produtos ligados à tecnologia nuclear e aos produtos de luxo. Pequim tem sido fortemente pressionada, sobretudo pelos EUA, para aplicar as sanções ao seu tradicional aliado.
(Por Helena Tecedeiro, Sapo, 16/10/2006)
http://dn.sapo.pt/2006/10/17/internacional/el_baradei_alerta_contra_candidatos_.html

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