O mundo precisa de 20 vezes mais usinas nucleares para reverter um apocalipse ambiental que poderia provocar a morte de bilhões de pessoas, alertou nesta segunda-feira (16/10) um destacado defensor do uso da energia atômica. A sugestão de John Ritch, diretor geral da Associação Nuclear Mundial, atraiu a condenação de grupos ambientalistas segundo os quais os potenciais prejuízos da energia nuclear - entre eles a proliferação de armas - superam em muito os benefícios.
Em pronunciamento durante uma conferência sobre energia nuclear realizada hoje em Sydney, Ritch calculou que seria preciso multiplicar por no mínimo 20 o número de reatores nucleares hoje em funcionamento no mundo para suprir a voraz demanda por energia de países em rápido desenvolvimento, como a Índia e a China.
Nos países desenvolvidos, cerca de 1,4 bilhão de pessoas - ou 20% da população global - consomem atualmente cerca de 80% de toda a energia produzida no planeta. A maior parte dessa energia é produzida pela queima de combustíveis fósseis e pela exploração de outros recursos naturais não renováveis.
A queima de combustíveis fósseis é considerada uma das principais causas das emissões de gases causadores do efeito estufa. Segundo estimativas, é possível que a China, a Índia e outros países em desenvolvimento superem as nações desenvolvidas nas emissões de poluentes, disse Ritch. "Os cientistas alertam hoje, com cada vez mais certeza, que as emissões de gases causadores do efeito estufa, se continuarem na atual escala, trarão conseqüências que serão literalmente apocalípticas", alertou.
Os cientistas destacam que um aumento médio de apenas 2ºC nas temperaturas globais podem provocar danos ambientais extensos, como secas, enchentes, extinção de espécies, aumento do nível do mar, fome e doenças generalizadas. "Se essas previsões se confirmarem, os efeitos combinados seriam a morte de não apenas milhões, mas de bilhões de pessoas, e a destruição de grande parte da civilização em todos os continentes", disse Ritch.
Atualmente, cerca de 400 reatores nucleares produzem em torno de um sexto de toda a energia consumida no mundo. Segundo ele, seriam necessários pelo menos 8.880 reatores produzindo 10.000 gigawatts-hora de energia para que seja evitada uma catástrofe global, disse Ritch. A queima de combustíveis fósseis libera gás carbônico na atmosfera. O gás carbônico é apontado pelos cientistas como o principal culpado pelo aquecimento global.
Os defensores da energia nuclear alegam que as usinas atômicas representam a alternativa viável mais limpa porque não produz praticamente nenhum gás causador do efeito estufa. Os críticos, entretanto, alegam que o desenvolvimento da energia atômica acarreta o risco da proliferação de armas e cria um problema de longo prazo referente ao armazenamento do chamado lixo nuclear, fatores estes que reduziriam a viabilidade da energia atômica como uma alternativa segura aos combustíveis fósseis.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro da Austrália, John Howard, manifestou hoje seu apoio ao desenvolvimento da energia nuclear em seu país. A Austrália possui cerca de 40% de todas as reservas conhecidas de urânio no mundo, mas possui apenas uma usina nuclear, usada em pesquisas médicas.
(
AP, 16/10/2006)