Cientistas disseram na segunda-feira ter encontrado a primeira prova direta que relaciona o derretimento da camada de gelo na Antártida com o aquecimento global atribuído amplamente às atividades humanas.
Mudanças nas correntes de ar que atingem a região sul da Terra somadas às emissões humanas de gases do efeito estufa aqueceram a península da Antártida, que se estende na direção da América do Sul, e contribuíram para o rompimento da geleira de Larsen B, em 2002, disseram.
"Essa é a primeira vez que alguém foi capaz de demonstrar um processo físico relacionando diretamente o esfacelamento da Placa de Gelo de Larsen com a atividade humana", afirmou Gareth Marshall, principal autor do estudo da Sociedade Antártida Britânica. O pedaço de gelo que se desprendeu no mar de Weddell em 2002 tinha 3.250 quilômetros quadrados, sendo maior, portanto, que Luxemburgo.
A maior parte dos especialistas em questões climáticas diz que os gases do efeito estufa, em especial os liberados durante a queima de combustíveis fósseis em indústrias e carros, estão aquecendo o globo terrestre e provocando um aumento no número de casos de erosão do solo e de enchentes e elevando o nível dos oceanos.
Os meteorologistas, porém, mostram-se relutantes em relacionar eventos isolados -- como uma onda de calor ou uma tempestade -- com o aquecimento da Terra.
Mas os cientistas britânicos e belgas que elaboraram o artigo publicado na revista Journal of Climate disseram ter provas de que o aquecimento global e a diminuição da camada de ozônio sobre a Antártida, provocada por produtos químicos fabricados pelo homem, haviam tornado mais fortes os ventos que sopram na região no sentido horário.
A cadeia de montanhas da península da Antártida, com cerca de 2.000 metros de altura, costumava proteger a parte leste da placa de gelo de Larsen de ventos mais quentes. "Se os ventos vindos do oeste ganham força, o número de vezes em que o ar quente passa por sobre a barreira montanhosa aumenta de forma bastante dramática", afirmou à Reuters John King, co-autor do estudo da British Antarctic Survey.
VERÕES MAIS QUENTES
As temperaturas médias durante o verão da região nordeste da península da Antártida ficaram em torno de 2,2 graus Celsius nos últimos 40 anos. Mas nos dias de verão em que os ventos sopram por sobre as montanhas, chegando à área, o ar quente pode aquecê-la para cerca de 5,5 graus Celsius. E nos dias mais quentes a temperatura chega a cerca de 10 graus Celsius.
King disse que os dados sobre as temperaturas na Antártida abrangem cerca de apenas 50 anos, mas observou haver provas, obtidas por meio dos sedimentos encontrados no leito do mar, de que a geleira de Larsen estava na região havia 5.000 anos. "Mais ao sul, na parte continental da Antártida, as temperaturas continuam bastante estáveis", afirmou. "Não há provas diretas e claras a respeito de efeitos da atividade humana sobre a região."
O esfacelamento da Larsen B não elevou o nível dos oceanos porque o gelo já estava na água. Um copo cheio de água com cubos de gelo não irá derramar se o gelo derreter porque a água, na forma sólida, possui volume maior do que na forma líquida. Mas, segundo King, o fim da barreira de gelo flutuante poderia acelerar o fluxo de geleiras de terra rumo ao mar, já no curto prazo. Esse gelo poderia elevar o nível dos oceanos.
(Por Alister Doyle,
Reuters, 16/10/2006)