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2006-10-17
A crescente demanda por energia somada a instabilidade dos preços e à dependência mundial dos recursos fósseis fizeram o planeta se curvar diante das fontes alternativas. No Rio Grande do Sul segundo o biólogo Jan Karel Mähler Junior, Mestre em Manejo de Fauna pela Universidade de Córdoba na Argentina, algumas iniciativas – como biodiesel, energia solar, biomassa e eólica – estão sendo buscadas como opção na geração de eletricidade livre de impacto ambiental.

Embora enalteça seus benefícios, ressalta o equívoco da Sociedade e dos governos em não visualizar os impactos ambientais decorrentes das fontes renováveis. “Não adianta pensarmos numa fonte alternativa e não pensarmos nos impactos ambientais. Não é por ser uma geração limpa que não pode gerar passivo”.

No parque Eólico de Osório, por exemplo, que começou a gerar energia em junho, já existe um monitoramento para avaliação de danos. Mähler Junior controla as aves da região, avaliando quais os prejuízos causados pelo parque. Segundo ele, no mundo, todas as aves sofrem impactos consideráveis em zonas eólicas. “Não só pelas torres, mas pelas linhas de transmissão instaladas. Elas podem colidir e deixar de procriar. Enfrentam problemas de dormitório, bem como a própria reprodução da espécie”, explica.

O biólogo também chama a atenção para os impactos que antecedem a geração desta fonte alternativa, ou seja, os problemas causados no período de construção do empreendimento. “Precisa-se abrir estradas em meio aos terrenos – grandes carretas trafegam nas imediações, tendo em vista que cada torre tem pelo menos 33 metros –, o que provoca uma grande alteração ambiental. Além disso, aves e outros animais invertebrados acabam morrendo atropelados”.

Mähler sugere a necessidade de se fazer estudos prévios, a escolha dos locais onde serão instalados os “aerogeradores”. Ele conta que a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e a Fundação Zoobotânica realizaram zoneamento eólico no Estado. Ficou constatado, no estudo, que, na região serrana do Sudeste, a implantação de parques, do ponto de vista ambiental, seria gravíssimo, por que o local é bastante frágil. O relevo não favorece os parques eólicos. “Isso mostra que não adianta a gente pensar numa fonte alternativa e não pensar nos seus respectivos impactos ambientais. Ela pode ser uma geração limpa, mas não quer dizer que por isso ela seja benéfica, que pode ser aplicada em qualquer lugar”.

Catalisadores químicos x Catalisadores biodegradáveis

Embora surja no cenário nacional como alternativa sustentável, o biodiesel também deve ser estudado de forma cautelosa, na avaliação da doutoranda em biotecnologia na questão do biodiesel pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Roberta Bussamara. Ela alerta que ainda não há estudos relativos aos problemas ambientais causados por esta alternativa. “Por enquanto, todo mundo está se preocupando apenas em construir a usina”, observa.

O cuidado necessário, segundo Roberta, diz respeito aos catalisadores químicos utilizados no tratamento de efluentes, além de alguns produtos retirados na lavagem e eliminados posteriormente no ambiente. “Forma muito sabão e sais. Na maioria das vezes, esses produtos restantes podem ser tóxicos e prejudiciais tanto aos recursos hídricos e ao solo, como aos seres humanos”.

A solução apontada seria produzir biodiesel por meio de catalisadores biológicos (biodegradáveis), na tentativa de evitar problemas ao ecossistema. “Nós (o Centro de Biotecnologia da UFRGS) já desenvolvemos o catalisador e, agora, estamos produzindo o biodiesel. Isso está trazendo bons rendimentos. É mais viável porque reduz o custo de produção e, além disso, para o meio ambiente é muito melhor por que não produz nenhum tipo de rejeito que possa ser tóxico ao ecossistema quando eliminado”, argumenta.

O Núcleo Amigos da Terra Brasil (NAT) aponta prováveis problemas já no cultivo da agricultura, utilizada na obtenção de energia e salienta a necessidade de se estabelecer critérios na forma de produção. A ONG rechaça toda e qualquer forma de cultivo transgênico das oleanoginosas, tanto para a produção de energia, como para o cultivo de alimentos. “Nós somos contrários à biotecnologia para qualquer finalidade”, admite Lúcia Ortiz, geóloga e coordenadora -geral da ONG.

Embora não haja pesquisas que confirmem o passivo causado pelos transgênicos à saúde humana e à biodiversidade, Lúcia questiona a possibilidade de contaminação do solo e, conseqüentemente, na produção de outros alimentos.

A eletricidade obtida por meio dos reatores nucleares (veja matéria sobre resíduos nucleares nessa edição) responde, atualmente, por cerca de 6,5% do total da matriz enérgica mundial. Esse número, segundo Mähler Junior, poderá aumentar, na medida em que a população cresce e a demanda por energia aumenta. “Principalmente, na Europa e na Ásia, pois eles não têm muitas fontes alternativas de energia como nós. Por isso, precisam investir na nuclear”.

No Brasil, há duas usinas: Angra I e Angra II, ambas funcionando, segundo o biólogo. Embora acredite que a implantação de uma usina não seja tão prejudicial, tendo em vista que não gera uma perda grande de hábitat, o biólogo ressalta não ser favorável a essa alternativa. “Temos que pensar no passivo provocado pela geração do lixo nuclear, assim como na possibilidade de haver algum acidente. Se isso acontecer, o efeito será catastrófico e muito duradouro”.

Semelhante avaliação tem Lúcia Ortiz, para quem a energia nuclear, além de bastante cara, não compensa pelos riscos de acidentes catastróficos. “É a fatal permanência no ambiente de resíduos radioativos por milhares de anos, o que a torna uma opção totalmente descartável”.
(Por Tatiana Feldens, Ambiente JÁ, 17/10/2006)

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