Diário dos Ventos - Após três dias, o nordestão trouxe a chuva
2006-10-17
Três dias de nordestão. Então a chuva proverbial. Nesse feriadão de Aparecida, que rolou de 12 a 15 de outubro, o clima do litoral norte gaúcho se mostrou tão regulado quanto uma viagem de carreta de outrora, quando os tropeiros não dispunham de informações de satélite para saber como seria o tempo, mas mesmo assim nos legaram ensinamentos fundamentais sobre a relação entre os ventos e as chuvas.
Na Lagoa dos Barros, velejadores aprendizes e veteranos chegaram a renegar o ventão de sexta-feira, 13, mas nem todo mundo tem medo de assombração. Quem caiu n’água fez a festa. Nas praias, recentemente atingidas por uma ressaca assustadora que quebrou muros e invadiu avenidas, quem tomou coragem de entrar no mar não se arrependeu. Nos morros da Serra Geral, visitantes fizeram filas em busca de trilhas e cascatas.
Aos modernos observadores da paisagem mutante do litoral, onde o vento virou promessa de maná -- graças aos cata-ventos da parceria Wobben-Elecnor, responsável pela construção do Parque Eólico de Osório --, o primeiro feriadão da primavera de 2006 sugeriu que a Natureza ainda tem forças para confirmar velhos provérbios consagrados pelo cancioneiro popular. “Vai chover daqui três dias, previsão que ninguém erra, pois chegou o vento norte, soprando ao pé da serra”, diz o refrão de uma canção do nativismo gaúcho.
Num churrasco em Capivari do Sul, um grupo de micro-empresários do agronegócio concluiu que o biodiesel não servirá nem para os produtores rurais nem para os consumidores gaúchos. Mamona no sul em grande escala, nem pensar, não dá bom rendimento agrícola. E por causa do clima frio o biodiesel com 5% de óleo vegetal vai entupir os bicos injetores de caminhões e tratores da região.
Isso pelo menos foi o que um dos micro-empresários ouviu no final de setembro numa palestra de uma engenheira da Refinaria Alberto Pasqualini num seminário sobre engenharia e meio ambiente em Porto Alegre. A distinta senhora disse claramente: o biodiesel pode servir como um bom regulador do mercado de algumas commodities agrícolas, como a soja e principalmente a cana, mas energeticamente equivale a amarrar cachorro com linguiça.
(Por Geraldo Hasse, da Série Diário dos Ventos, exclusivo para o Ambiente JÁ e Jornal JÁ, 16/10/2006)