(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2006-10-16
A tragédia chegou ao Rio Grande, há muito, mas fingimos que não foi aqui: a mortandade de peixes no Rio dos Sinos não pode ser vista como fato isolado, que afete um curso dágua ou nos preocupe ao poluir as fontes de captação para consumo na área metropolitana. A mortandade é apenas um sintoma de algo maior, em que a administração pública e a empresa privada são igualmente responsáveis, numa engrenagem que supera o desleixo e se torna criminosa ao afetar diretamente a vida.

Sim, a vida de todos nós, não só a dos peixes. Ao receber os resíduos industriais e domésticos, não é só o rio que apodrece. Todos nós apodrecemos antes disso, ao não entendermos que o atual estilo de vida urbana e de "desenvolvimento" industrial leva à destruição da vida. Atiramos aos rios o lixo mais pestilento e contaminador, chamando a isso de "progresso" ou modernidade.

Prefeitos, governadores, ministros ou até presidentes, orgulham-se de construir (a preços altíssimos, regados a propinas) milhares de quilômetros de redes cloacais que, sem tratamento, vão aos rios, onde já se despejam os resíduos de curtumes, fábricas de papel, refinarias e outras indústrias, ou onde chegam as enxurradas dos agrotóxicos, completando o ciclo destrutivo. Logo, o Estado investe bilhões em sofisticadas estações de tratamento para transformar a nauseabunda lixeira aquática em límpida água potável, com a qual lavamos carros ou calçadas.

Construímos um ridículo suicídio coletivo e o apresentamos como síntese do "futuro".

***

No domingo passado, 48 horas antes da eclosão da tragédia do Sinos, os dois candidatos ao governo gaúcho expuseram suas idéias neste jornal mas nada mencionaram sobre a preservação ambiental. O tema não mereceu sequer uma palavra, muito menos um ponto de programa de governo.

Por que Olívio e Yeda foram mudos? Porque peixe não vota e os dois candidatos se dirigiam somente aos eleitores, com frases a esmo em busca da vitória, como se empilham sacos num armazém?

A preservação ambiental foi o grande descobrimento do século 20 e incorporou à ciência e à vida conceitos e visões fundamentais como ecologia, ecossistemas e biodiversidade. Todos dizem-se interessados em defender o meio ambiente e a vida, mas na área pública e grandes empresas há mais discurso do que atividade concreta. Às vezes, o descalabro e o aventureirismo chegam àquelas situações que José Lutzenberger chamava de "obscenas".

Há um Ministério de Meio Ambiente, com diferentes órgãos, e cada Estado tem sua secretaria ambiental. Além disso, os 5 mil municípios do país têm secretarias de meio ambiente, algumas acopladas às de saúde. Só no Rio Grande do Sul, pelo menos 120 prefeituras estão aptas a licenciarem empreendimentos que podem afetar o meio ambiente. Essa parafernália de burocratas e carimbos pouco serve, porém, e, na maioria das vezes, o estudo de impacto ambiental se resume a expedir a guia para pagamento da licença ambiental.

Ou seja, paga-se e degrada-se.

***

Em 1654, quando o padre Antônio Vieira pronunciou no Maranhão o Sermão aos Peixes, a fauna de rios e mares era exuberante e nem sequer existia o termo "poluição ambiental". Vieira pregava para a Corte e o alto clero, mas se dirigiu aos peixes. "Já que os homens não aproveitam, prego aos peixes. As águas estão tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles", disse o jesuíta na mais bela peça em prosa da língua portuguesa.

"Ao menos têm os peixes duas boas qualidades: ouvem e não falam", completou, criticando os poderosos de então, que se empenhavam em estender a escravidão negra. Em contraposição ao ser humano, lembrou que os peixes "são os únicos animais que não se domam nem se domesticam. Até os leões e tigres, com artes e benefícios se amansam".

O que diria Vieira, hoje, quando tudo se amansa com artes e benefícios?
Flávio Tavares é jornalista e escritor
( Zero Hora, 15/10/2006)

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -