Despejo de resíduos em riacho é problema antigo na localidade de Santa Gema, em Passo Fundo
2006-10-17
Após o desastre ambiental no rio dos Sinos causado por diversas empresas e que acabou
provocando a morte de pelo menos uma tonelada de peixes, Passo Fundo retoma uma velha
notícia: o despejo de resíduos em um riacho na localidade de Santa Gema
Devido às denúncias feitas por pequenos agricultores de Santa Gema, o Gesp (Grupo Ecológico
Sentinela dos Pampas) realizou vistorias na propriedade Chácara Céu Azul entre os dias 6 e
10 de outubro. Durante esse período, ambientalistas e biólogos puderam constatar que em um
riacho sem denominação - que é afluente do arroio Pinheiro Torto e integrante, portanto, da
Bacia Hidrográfica do Rio Jacuí - estão sendo lançados resíduos sem tratamento, fato que
ocorre há dez anos.
Esses dejetos formam uma camada superficial sobre o espelho de água, devido ao acúmulo de
gordura, e causam poluição atmosférica, com o forte odor emanado do riacho. Além disso foi
constatado um depósito de vísceras e penas próximo a lavouras. O riacho passa por quase
toda a Chácara Céu Azul e seu proprietário contou que há grande proliferação de moscas e
mosquitos. A água que corre é verde, como quando se lava uma cuia suja de erva. O gado
costumava beber daquela água e em virtude disso morreram cinco terneiros, uma ovelha e
muitos cães. Para amenizar o problema, o dono das terras puxou água do poço de um vizinho.
Tempos depois, a empresa - que pode ser avistada da parte alta da propriedade - despejou
por cima dos canos uma carga de vísceras e sangue de aves, terminando assim a segunda opção
de água limpa que a família mantinha. Por conta disso, o Ministério Público firmou com a
Companhia Minuano de Alimentos (empresa causadora dos danos) a cedência de 250 litros de
água/mês ao proprietário da chácara.
Residente na área há 20 anos, o proprietário da chácara contou que não existem mais peixes
ou sapos perto do riacho e também que havia uma época em que não se podia ouvir rádio ou
televisão, a não ser com volume muito alto, devido ao alto grau de poluição sonora - cerca
de 85 dB - produzido pelas atividades da companhia. O MP determinou que a empresa plantasse
árvores ao redor da empresa, para evitar a propagação do barulho e do mau cheiro, coisa que
não aconteceu. No entanto, conforme o proprietário, o barulho diminuiu. "Antes não
conseguíamos nem ouvir os passarinhos, parecia que eles não cantavam mais, só no domingo à
tarde, único horário que a empresa não funcionava, é que se ouvia os pássaros novamente."
De acordo com o presidente do Gesp, Paulo Fernando Cornélio, a empresa tem tanques de
decantação, destinados a tratar os resíduos líquidos, porém ela não os utiliza, os tanques
não estão sendo usados há muito tempo. A lei ambiental, e a do bom senso, diz que as
empresas devem tratar os resíduos líquidos antes de despejá-los em rios. As vísceras e
penas de aves devem ser enterradas a 10cm de profundidade e ser constantemente reviradas,
para que possam se transformar em adubo. "Do modo como está sendo feito, além de ilegal,
provoca mau cheiro e proliferação de insetos", conclui Cornélio.
A principal família atingida pelas atividades do abatedouro entrou na Justiça há quatro
anos, mas ainda não conseguiu o que mais deseja: a volta da água limpa correndo no riacho,
o fim do mau cheiro, do barulho, dos insetos e do incômodo. A propriedade, com cerca de 12
hectares, já foi visitada por compradores que, entretanto, ao tomarem conhecimento da
situação, desistem logo do negócio. Quando a família adquiriu a chácara, o abatedouro de
aves ainda não estava instalado na região.
Para ouvir a outra parte, a Redação de ON entrou em contato com a Doux Frangosul. Ricardo
Fonseca, gerente da empresa, informou que há dois meses a Frangosul fechou um contrato de
prestação de serviços com a Companhia Minuano de Alimentos e que se supunha que todas as
questões ambientais estivessem corretas. Fonseca declarou que a responsabilidade de sanar
esses problemas são da empresa contratada e que já está tomando as providências quanto ao
caso.
O Gesp aguarda que a poluição no local cesse e que os culpado sejam responsabilizados. É
necessário que seja feita uma avaliação da área que determine o impacto causado no meio
ambiente para então começar com as medidas de recuperação ambiental. O Ministério Público
já tem conhecimento do caso através da Promotoria Especializada. Também foram informadas a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a 1ª Companhia Ambiental.
(O Nacional, 15/10/2006)
http://www.onacional.com.br/