Iraquianos arriscam a vida para coletar lixo em Bagdá
2006-10-16
Al-Atia é um gari. Em uma cidade na qual uma bomba poderia estar escondida em qualquer lugar, e na qual os insurgentes querem matar para evitar que sejam descobertos, um emprego que paga apenas alguns poucos dólares por dia se torna um dos mais perigosos possíveis. A maioria dos 500 trabalhadores municipais que foram mortos desde 2005 eram coletores de lixo, segundo Naeem al-Kaabi, o vice-prefeito da cidade. “Quando nós estamos trabalhando, estamos sempre nervosos”, afirmou al-Atia, 29 anos, que começou a coletar lixo durante o governo de Saddam Hussein. “Estamos carregando nossas almas em nossas mãos”.
O perigo dos garis está na raiz de um dos mais visíveis sintomas do colapso em Bagdá. O lixo está por toda parte, especialmente em bairros perigosos, cobrindo todas as ruas, vales e lotes vazios. A coleta de lixo se uniu a uma longa lista de serviços básicos, incluindo eletricidade, água e esgoto, que estão em decadência em diversas partes do Iraque desde a invasão liderada pelos EUA.
Os coletores de lixo freqüentemente recusavam se arriscar em bairros especialmente cheios de problemas de Bagdá, nos quais os surtos de violência eram comuns. Ou eles se jogavam em qualquer canto quando o perigo chegava, se escondendo o máximo possível. Para protegerem as bombas que eles deixam para tropas americanas e iraquianas, os insurgentes já mataram centenas de coletores de lixo.
“Nós estamos com medo”, afirmou al-Atia.
Além dos desafios impostos pela violência, a cidade é lamentavelmente mal-equipada para lidar com o lixo de 6 milhões de pessoas. Ela possui apenas 380 caminhões de lixo em funcionamento, comparados com os 1.200 que existiam antes da queda de Saddam, segundo al-Kaabi. A maioria dos veículos foi destruída ou se perdeu no saque que dominou a capital do Iraque após a invasão. Ele estimou que Bagdá precisava de 1.500 caminhões de lixo.
Normalmente apenas um caminhão de lixo, com um motorista e um coletor de lixo, serve entre 20.000 e 30.000 pessoas, segundo Satar Jabar, um membro de um conselho distrital.
“Não é o suficiente”, afirmou ele. A queda do governo de Saddam trouxe a liberdade, segundo Ali Hasan, um membro do Conselho do Distrito de Mansour que representa Warshash, um bairro pobre no qual o lixo é um sério problema.
O governo da cidade tentou realizar campanhas educacionais, pôsteres, até mesmo seminários em escolas e mesquitas para promover a limpeza. Porém, em certas áreas, apenas uma presença armada pode ajudar. Desde agosto, os militares americanos, que são o grande adversário iraquiano, têm conduzindo as vassouras da vizinhança nas regiões mais complicadas da cidade. Uma vez que as áreas são seguras, a remoção de lixo feita por equipes iraquianas está entre as primeiras prioridades.
(Por Michael Luo, The New York Times, 13/10/2006)
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