Depois de quase um ano de tratativas para a instalação de equipamento para beneficiamento de matéria-prima e conversão para biodiesel, Bagé vai sediar no próximo dia 21 a assinatura de um termo de entendimento entre a Petrobras, o Frigorífico Mercosul e a Cooperativa Biopampa. A informação foi divulgada sexta-feira (13/10) pelo prefeito Luiz Fernando Mainardi a partir de contato com a direção da Petrobras, confirmando o que pode vir a ser um investimento de mais de R$ 80 milhões numa nova matriz energética a partir dos municípios das regiões Sul e Campanha. De acordo com o prefeito, o projeto inclui a instalação de 12 máquinas esmagadoras em áreas geográficas diferentes e de um equipamento de transesterificação que pode ser instalado em Bagé ou Pelotas. “O que vai determinar a fixação do equipamento serão critérios como melhor logística, proximidade com a produção de maior expressividade, transportes e distribuição”, avalia o prefeito, informando que a cidade tem grandes possibilidades porque tem áreas, transporte ferroviário, rodovias recuperadas e as duas matérias-primas próximas.

A infra-estrutura técnica necessária à implementação da produção de matéria-prima e seu beneficiamento apresenta uma novidade na avaliação de Mainardi. “O projeto regional permite elaboração de biodiesel a partir de duas fontes de matéria-prima: a vegetal e a animal”, comemora. Para ele, há uma grande vantagem de, num mesmo investimento, integrar ações que incentivem tanto a diversificação na produção agrícola quanto da tradicional atividade pecuária. Com o plantio de mamonas e girassol é possível extrair óleo com o mesmo investimento aplicado para beneficiar o sebo animal resultante da atividade frigorífica que é uma das mais bem estruturadas na região.

O acordo é fruto de estudos de viabilidade técnico-econômica e plano de negócios, nos quais são previstas as condições de atuação dos parceiros no novo empreendimento. A Petrobras assume a parceria porque tem tecnologia e recursos, o Frigorífico Mercosul porque é grande produtor de sebo bovino e a Biopampa, porque é uma cooperativa de pequenos produtores rurais que se preparam para garantir a produção permanente que deve se concentrar em mamona e girassol.

Vocação
Ao avaliar o setor primário regional, Mainardi reconhece que não há uma tradição no cultivo de oleoginosas. “Mas pretendemos estabelecer um amplo debate sobre a necessidade de apostar numa atividade rentável, tanto para os pequenos produtores reunidos em cooperativa quanto para os médios e grandes investidores”, indica. O prefeito ressalta que o programa nacional do Biodiesel é focado para o aumento de renda da agricultura familiar. Assim, os projetos com selo da agricultura familiar deverão determinar vantagens para inserção no negócio, como isenção de tributos que incidiriam sobre o biodiesel. “Mas isso não significa que o empreendimento seja dirigido somente para estes produtores. A idéia é abrir o programa para todos que desejem participar”, garante.

Projeto prevê compensações nos lucros Além da questão produtiva, o programa a ser firmado em Bagé prevê uma novidade em termos de gestão. Os produtores vão comercializar as oleoginosas a preço de mercado. Quando o valor estiver favorável os indícios são de que a empresa formada a partir da parceria entre Petrobras, Frigorífico Mercosul e Cooperativa Biopampa terão um lucro menor. Quando o preço da matéria-prima estiver mais baixo, aferindo por tendência de mercado um lucro maior para a empresa, parte desse lucro deverá ser apropriado pelos produtores. Para Mainardi, tal característica transforma a posição dos produtores de meros fornecedores de matéria-prima a sócios da Petrobras.

Biodiesel: conceito e funções
Biodiesel é um combustível biodegradável derivado de fontes renováveis, que pode ser obtido por processos como o craqueamento, a esterificação ou pela transesterificação. Esta última, mais utilizada e indicada para o programa em Bagé, consiste numa reação química de óleos vegetais ou de gorduras animais com o álcool comum (etanol) ou o metanol, estimulada por um catalisador. Desse processo também se extrai a glicerina, empregada para fabricação de sabonetes e diversos outros cosméticos. Há dezenas de espécies vegetais no Brasil das quais se pode produzir o biodiesel, tais como mamona, dendê (palma), girassol, babaçu, amendoim, pinhão manso e soja, dentre outras.

O biodiesel substitui total ou parcialmente o óleo diesel de petróleo em motores ciclodiesel automotivos (de caminhões, tratores, camionetas, automóveis, etc.) ou estacionários (geradores de eletricidade, calor, etc.). Pode ser usado puro ou misturado ao diesel em diversas proporções. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel de petróleo é chamada de B2 e assim sucessivamente, até o biodiesel puro, denominado B100.
(O Minuano, 14/10/2006)
http://www.jornalminuano.com.br/noticia.php?id=9731