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2006-10-13
Uma antiga questão intriga os zoólogos: por que as espécies de mamífero têm uma vida curta, surgindo e se extinguindo em intervalos de cerca de 2,5 milhões de anos? Um grupo europeu agora diz ter a resposta: está tudo escrito nos astros. Em dois deles, mais especificamente - a Terra e o Sol. Os pesquisadores, liderados pelo holandês Jan van Dam, da Universidade de Utrecht, propõem que variações na órbita da Terra e na inclinação de seu eixo estejam por trás dos misteriosos ciclos de extinção de mamíferos, cujos picos, verificados no registro fóssil, coincidem com cálculos astronômicos para esses eventos.

A explicação, afirmam, está em mudanças climáticas extremas causadas por essas variações, como invernos mais frios. Os cientistas já sabem desde a década de 1920 que a dança da Terra ao redor do Sol sofre alterações periódicas, e que isso causa mudanças na quantidade de radiação solar que chega ao planeta. Essas alterações são de três tipos principais: a excentricidade da órbita, a inclinação do eixo do planeta (veja quadro à direita) e o bamboleio ou precessão dos equinócios, nome dado à mudança na direção do eixo da Terra em relação ao Sol.

Essas mudanças são conhecidas como ciclos de Milankovitch, em homenagem ao geofísico sérvio Milutin Milankovitch (1879-1958), que as calculou pela primeira vez, ligando-as a mudanças climáticas no passado da Terra. Os ciclos de Milankovitch, no entanto, têm intervalos de dezenas ou centenas de milhares de anos. Mas as extinções de mamíferos e sua substituição por novas espécies ocorrem em intervalos maiores -portanto, ninguém tinha conseguido usar a teoria astronômica para explicar de forma convincente o fenômeno biológico. No entanto, os próprios ciclos orbitais do planeta também variam de intensidade, na escala de milhões de anos. E é aí que eles se ligam às extinções, afirma Van Dam .

Dentes do ofício
Para relacionar as duas coisas, o grupo liderado pelo holandês recorreu a um verdadeiro baú do tesouro paleontológico: seqüências de sedimentos em rochas da Espanha que guardam o registro ininterrupto de 22 milhões de anos de evolução de roedores, na forma de 80 mil dentes isolados.

Entre as mais de 130 linhagens identificadas, o grupo mapeou quais viveram em que períodos e quando se extinguiram. Descobriram que, nesse intervalo, extinções aconteciam em dois ciclos: um entre 2,4 a 2,5 milhões de anos e outro a cada 1,2 milhão de anos. Em seguida, os cientistas cruzaram os dados de extinção com as variações de longo prazo na intensidade dos ciclos.

Descobriram que os picos de extinção batiam com as variações de órbita e de inclinação do eixo terrestre, respectivamente. "Os períodos de sucessão de fauna e os astronômicos eram quase idênticos", disse Van Dam à Folha. O estudo sai hoje na revista "Nature" (www.nature.com).

Viés
Cientistas que não participaram do estudo dizem que a relação pode valer para os roedores espanhóis - pequenos mamíferos são bem mais sensíveis a mudanças ambientais que, digamos, elefantes e leões - mas não é, necessariamente, universal. O holandês diz apostar que sim. "(Roedores) só têm um registro mais denso, então é mais fácil mapear seu desaparecimento", afirmou.
(Folha Online, 12/10/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=27291

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