Roberto Malvezzi, Gogó *
Dobra pelo Amazonas, Madeira, São Francisco, Beberibe e por 70% dos rios brasileiros de alguma forma já degradados ou contaminados;
dobra por todos os empresários, por todo grande capital que devora a natureza e esmaga os seres humanos;
dobra pela classe política, incapaz de enxergar as novas exigências do século XXI e insistir no modelo desenvolvimentista da revolução industrial;
dobra pelos monocultivos da cana, da soja, do eucalipto que eliminam a biodiversidade e se estendem pelos campos brasileiros na monotonia do verde único;
dobra pela mídia brasileira, pela mídia mundial, que condena a degradação ambiental, mas apóia cotidianamente o modelo de desenvolvimento ao qual ela pertence;
dobra por cada árvore derrubada, cada espécie eliminada, cada peixe morto, cada vida a menos na riqueza da biodiversidade;
dobra pelos intelectuais de direita e os que se dizem de esquerda, que brigam e alimentam a briga pelo poder, mas se recusam ver os rumos da humanidade e sua relação com a natureza;
dobra por cada pescador que já não pesca, cada criança que já não come o peixe, cada família que já não bebe de suas águas;
dobra por cada um de nós, filhos mortais da natureza, que preferimos carro individual, o ar condicionado, o peixe de granja, que a vida bebida diretamente na natureza.
Já não haverá mais sapos (para fazer remédio); já não haverá mais plantas (para fazer remédio); já não haverá mais cascavel para fazer o anestésico seiscentas vezes mais potente que a morfina.
Só então perceberão que havia um Rio dos Sinos.
* Agente Pastoral da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
(
Adital, 11/10/2006)