Diante dos fatos de que os conflitos entre as forças militares da Colômbia e os grupos guerrilheiros de várias organizações armadas têm ameaçado a integridade física e espiritual das populações indígenas, o Tribunal Indígena do Norte de Cauca Nasa Ûus Yutx Pehnxi responsabiliza o presidente Álvaro Uribe, autor da política de Segurança Democrática; o comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o comando de grupos paramilitares que operam no norte de Cauca pelas mortes, deslocamentos forçados e atentados contra os bens dos indígenas que vivem na área.
"Diante dessa realidade, os povos indígenas expressam uma posição de autonomia. Não queremos nos envolver nesta guerra entre irmãos. Temos manifestado nosso desacordo com as políticas de guerra do governo colombiano, que se baseiam, atualmente, na política de Segurança Democrática do presidente Álvaro Uribe Vélez. Também temos manifestado nosso desacordo com as políticas e práticas dos grupos paramilitares e de guerrilha", afirma o documento elaborado durante a última reunião do tribunal.
O Tribunal afirma que todos os territórios indígenas do norte do Estado de Cauca têm sido, durante os últimos anos, cenários do conflito armado. Em conseqüência, os atores recrutam os jovens indígenas e deixam minas e munição sem explodir, que colocam em risco suas próprias terras sagradas.
"Reivindicamos nossa autonomia territorial. Somos povos milenares nestas terras. Vivemos nelas e as governamos desde antes desta guerra, desde antes que existisse a República da Colômbia, desde antes a invasão espanhola, desde que Uma y Tay nos deram a vida. Como fruto de nossa luta de resistência e pela autonomia, temos conseguido o reconhecimento constitucional e legal de alguns de nossos direitos como povos. Graças a esta luta, participamos na construção da atual Constituição Política da Colômbia, na qual se reconhece a autoridade que exercemos nos territórios", ressalta o documento.
Por seus valores de autonomia, os povos indígenas afirmam que não permitirão a presença dos atores ilegais do conflito armado em seus territórios e exigem das FARC que desmontem as estruturas que estão nos territórios. Exigem ainda do governo nacional a indenização econômica às famílias dos afetados pelos danos causados à sua integridade física.
Por fim, fazem um apelo às autoridades de ordem nacional e aos organismos de proteção dos direitos humanos e do direito internacional humanitário para declarar um alerta urgente, por conta do risco que estão correndo os povos indígenas deste território.
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Adital, 10/10/2006)