Acidentes ocupacionais com material biológico entre profissionais de enfermagem em um hospital de Angola
2006-10-13
Tipo de trabalho: Dissertação de Mestrado
Instituição: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP)
Ano: 2004
Autor: Lucas Antonio Nhamba
Contato: lucasnhamba@hotmail.com
Resumo:
Trata-se de um estudo descritivo exploratório com abordagem de análise quantitativa, cujo objetivo foi caracterizar os acidentes ocupacionais com material biológico potencialmente contaminado, ocorridos com trabalhadores de enfermagem de um hospital geral público localizado no interior de Angola, no período de julho de 2002 a julho de 2003, visando contribuir para criação de bases à implementação de políticas de prevenção de acidentes ocupacionais entre os trabalhadores da saúde. Coletaram-se os dados mediante entrevistas face a face, com base em roteiro aplicado por cinco sujeitos previamente treinados, após cumpridos todos os pressupostos éticos. Participaram do estudo 278 trabalhadores de enfermagem, de um total de 378, cujos resultados permitiram concluir que a população estudada é heterogênea, com idade variando de 22 a 66 anos, com maior concentração dos sujeitos nas faixas etárias de 22 a 30 anos (30,93%) e de 31 a 40 anos de idade (24,82%). A maioria é casada, com escolaridade de nível médio (59,00%). A incidência de acidentes nesta população foi elevada, uma vez que, dos 278 trabalhadores participantes do estudo, 93,88% sofreram um total de 1.477 acidentes diversos, com uma freqüência de 1 a 56 acidentes por sujeito. No presente estudo cada trabalhador descreveu até 4 acidentes no máximo, perfazendo um total de 376 acidentes descritos, sendo o sangue e seus derivados o material biológico mais citado (78,46%). Do total dos acidentes, 47,10% ocorreram por contato, seguidos dos acidentes percutâneos (45,20%), tendo a maioria (61,44%), acontecido no período da manhã, resultante da administração de medicamentos. Após a ocorrência da maior parte dos acidentes (97,61%), não houve qualquer conduta administrativa e nenhum dos profissionais foi submetido à profilaxia contra o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a hepatite B. Em 72,87% dos acidentes, 73,56% dos trabalhadores não faziam uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e 96.01% não conheciam a situação sorológica do paciente-fonte em relação ao HIV, à hepatite B e C. Estas constatações levaram o pesquisador a concluir que a problemática dos acidentes de trabalho na instituição resulta da interação de vários fatores ligados diretamente à formação e treinamento sobre as normas de biossegurança e à ausência de políticas institucional e governamental voltadas à prevenção de acidentes envolvendo material biológico, constituindo-se, dessa forma, em um agravo à saúde ocupacional desta população. Torna-se urgente a elaboração de estratégias para fazer face aos enormes problemas que envolvem a saúde ocupacional desses trabalhadores, com vistas à redução dos riscos presentes no ambiente de trabalho, sobretudo na atual conjuntura da emergência de várias enfermidades de alta periculosidade.