Japoneses compram até 50% dos créditos de carbono antecipados
2006-10-11
A venda de projetos brasileiros de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) a investidores do outro lado do mundo tem sido facilitada pela intermediação de bancos e instituições que fazem a transferência de informações e organizam a compra e venda de créditos de carbono.
Uma dessas entidades é o banco Sumitomo Mitsui, do Japão, que chega a intermediar a comercialização de 30% a 50% dos créditos de carbono que serão gerados futuramente por projetos brasileitos. Em palestra organizada recentemente pelo Institute for International Research (IIR), em São Paulo, o gerente geral de mercado de créditos de carbono do banco no Brasil, Hajime Uchida, explicou como funciona essa intermediação.
Uchida acredita que o Protocolo de Kyoto e o os projetos de MDL não devem ser encarados como uma ferramenta para gerar dinheiro aos países industrializados, e sim desenvolvimento sustentável para os países em desenvolvimento. Ele atua na área de MDL desde 2004 com o Banco Sumitomo no Brasil e explica que sentiu a necessidade de criar essa intermediação porque os investidores japoneses, em sua maioria, não falam português e não se deslocam até o Brasil para conhecer os projetos. O papel fundamental do Sumitomo é fornecer informações sobre o mundo do MDL e de projetos brasileiros que geram créditos de carbono e que possam interessar os investidores japoneses.
“Como nós fazemos também operação bancária normal aqui no Brasil e temos clientes brasileiros em território brasileiro, aproveitamos essa ligação com as empresas brasileiras para obter informações e reapssar a possíveis compradores de créditos de carbono”, explica.
O gerente esclarece que os investidores japoneses primam pelo aspecto sustentável dos projetos. “O comprador japonês é muito rigoroso, não compra crédito de carbono de uma companhia ‘suja’”. Ou seja, exige que o projeto, além de gerar os créditos de carbono, esteja perfeitamente de acordo com a legislação ambiental e trabalhista. Por isso, a presença de alguém no local é tão importante. Os representantes do banco acompanham de perto todo o processo de criação do projeto e geração de créditos que serão oferecidos a seus clientes.
“Os compradores preferem os projetos que têm sentido de desenvolvimento sustentável. Esse é um ponto muito importante”, confirma Uchida. “Mas qualquer negócio tem que ter equilíbrio – é necessário avaliar o custo-benefício do investimento que vai dar o rendimento correto no futuro”, adverte. No entanto ele entende que, quando se corre atrás só de rentabilidade, facilmente se esquece da visão de desenvolvimento sustentável nos negócios. “E, como eu respeito o espírito do Protocolo de Kyoto, eu não quero fazer isso”, enfatiza.
A intermediação de informações e o acompanhamento do desenvolvimento dos projetos brasileiros, tem oferecido segurança aos investidores japoneses, que já compram créditos de carbono antecipados. “Para receber pagamento antecipado, tem que convencer o comprador no Japão. E muitos deles não conhecem o Brasil e não sabem dos detalhes do projeto. Então, quem fornece informações suficientes para convencer o comprador somos nós, que verificamos a qualidade do PDD, a validação, o registro e de todas essas coisas”, explica o gerente.
Atualmente a venda de créditos de carbono futuros para o mercado japonês têm crescido. Os investidores chegam a pagar de 30% a 50% dos projetos adiantados. Para diminuir os riscos das transações, o Sumitomo realiza parceria com bancos nacionais, que assumem os riscos dos projetos. Um exemplo é o protocolo de intenção assinado em agosto deste ano entre o Sumitomo e o Banco do Brasil para apoiar empreendimentos passíveis de geração de créditos de carbono. As ações conjuntas dos dois bancos serão norteadas pelo Protocolo de Kyoto.
O acordo prevê a troca de informações e a liberação de financiamentos para a implementação de projetos de redução das emissões de gases causadores do efeito estufa, promovendo, dessa forma, a prevenção do aquecimento global.
(Por Sabrina Domingos, Carbono Brasil, 10/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23366