Novas usinas de cana aumentarão problemas ambientais no Espírito Santo
2006-10-11
A anunciada expansão dos plantios de cana no Espírito Santo, com a instalação de duas novas usinas de grande porte para produção de álcool, vão aumentar os problemas ambientais no Estado, inclusive com a intensificação do uso de agrotóxicos. E criará problemas sociais, tomando terras boas para a agricultura, que poderiam ser destinadas à reforma agrária.
O alerta é do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Segundo Valmir Noventa, um dos coordenadores estaduais do movimento, o governo do Estado e os prefeitos devem estar alertas e analisar os anunciados investimentos nesta área. Lembra que o Espírito Santo já tem enormes prejuízos com outra monocultura, a do eucalipto. O MPA faz parte da Via Campesina, junto com o Movimento dos Sem Terras (MST).
As seis usinas de açúcar e álcool do Espírito Santo são consideradas pequenas. Moem aproximadamente quatro milhões de toneladas de cana por ano, e respondem por cerca de 1% da produção nacional, de 420 milhões de toneladas.
Estão em operação a Lasa (em Linhares); Disa e Alcon (Conceição da Barra); Paineiras (Itapemirim); Albesa (Boa Esperança), e Cridasa (Pedro Canário). A área de plantio de cana é estimada em 60 mil hectares, e deve ser ampliada para 100 mil hectares.
Duas novas usinas serão construídas no Estado, segundo informa o jornal Valor Econômico em sua edição de ontem (10/10). As usinas serão implantadas pelo Infinity Bio-Energy, fundo criado por investidores americanos e britânicos. Segundo o jornal, cada usina deve moer 3 milhões de toneladas de cana na sua fase inicial. O investimento anunciado é de US$ 240 milhões.
O grupo conta com facilidades da logística (produção próxima do porto). Informa do licenciamento ambiental de instalações portuárias com capacidade inicial para operar 34 milhões de litros de álcool, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) no Espírito Santo. O fundo americano-britânico quer embarcar o álcool produzido por suas usinas em Minas Gerais e no Mato Grosso pelo Estado, mais próximo para escoação da produção do que o porto de Santos.
O MPA é crítico em relação às plantações de eucalipto e denuncia os danos sociais, ambientais e econômicos que a eucaliptocultura provoca. Para Valmir Noventa, também a produção de cana é prejudicial à agricultura e ao Estado.
Afirma: "As empresas que plantam cana não respeitam a legislação ambiental. Elas até aterram nascentes, para aumentar as áreas de plantios. Não respeitam a determinação legal de deixar protegida por vegetação 50 metros ao longo das margens dos córregos".
Aponta a agravante de as empresas "aplicarem os agrotóxicos de avião. Contaminam córregos e gente. Em terra, fazem ainda pulverizações mecanizadas, as capinas químicas". Valmir Noventa relata ainda o emprego de grande quantidade de adubos químicos, que também causam contaminação ambiental.
O dirigente do MPA critica a omissão tanto do Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), que não fiscalizam as barbaridades ambientais das empresas que produzem cana.
Mas o aumento da área plantada com cana também provocará problemas sociais. A atividade gera pouquíssimos empregos, pois o plantio e o corte são anuais. E a partir de agora, mecanizados.
Além de não gerar emprego, os plantios de cana e eucalipto em comum provocam aumento do preço da terra. Valmir Noventa informa que no norte do Estado, um hectare custa entre R$ 5 mil e R$ 10 mil. Desta forma, os latifundiários que usam suas terras para pastagens, preferem vender as terras para as empresas que produzem álcool ou celulose.
"A expansão da produção de cana inviabiliza a compra de terras pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentamentos de trabalhadores sem terra. É uma agravante, que deve ser considerado tanto pelo governo do Estado como pelas prefeituras", assinala Valmir Noventa.
Para ele, o interesse no aumento da produção de álcool só atende ao capital internacional. E conclui: "Eles buscam produzir no Brasil o combustível que precisam nos Estados Unidos, Japão e Europa. Os brasileiros pagam um alto preço ambiental, social e econômico para atender a esta demanda".
(Por Ubervalter Coimbra, Século Diário – ES, 10/10/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/outubro/10/noticiario/meio_ambiente/10_10_07.asp