Nações pró-Kyoto tentam manter pacto: últimos números referentes às emissões não são favoráveis aos defensores do Protocolo
2006-10-11
Com poucas exceções, as grandes nações industrializadas do mundo estão lutando para alcançar as suas metas de redução das emissões de gases do efeito estufa devidas ao Protocolo de Kyoto sobre mudanças climáticas. A Europa está na frente é claro, o Japão ainda está longe da sua meta, e o Canadá desistiu.
Os últimos números referentes às emissões de gases do efeito estufa (GEE) não são favoráveis aos defensores do Protocolo, mas são um munição bem vinda para os países que não aderiram a Kyoto, como Estados Unidos e Austrália. “Creio que houve muitas estimativas econômicas otimistas que vieram dos departamentos de planejamento pró-Kyoto,” disse um antigo crítico do Protocolo de Kyoto, Kenneth Green, do American Enterprise Institute de Washington.
Ativistas pró-Kyoto dispensam tal crítica, dizendo que as metas ainda são alcançáveis se os países se esforçarem um pouco mais. O Protocolo de Kyoto, tratado da ONU negociado na cidade japonesa de Kyoto em 1997 e efetivado no ano passado, exige a redução de cerca de 5% das emissões de GEE até 2012, com base nos níveis de 1990. No mês que vem, em Nairóbi, Quênia, acontecerá uma conferência onde as nações signatárias de Kyoto discutirão reduções para o período pós 2012.
Um amplo consenso científico concorda que os GEE, como o dióxido de carbono e o metano, contribuem para o aquecimento global através do efeito estufa. Uma questão ainda em aberto é sobre a intensidade e a rapidez destas mudanças climáticas. Os Estados Unidos, maior emissor mundial de GEE, foi retirado do Protocolo pelo Presidente Bush alegando que o país seria prejudicado economicamente, e que outras nações poluidoras, como a China e a Índia, não estavam incluídas.
Outras nações decidiram tomar a dianteira apesar disso, e os últimos número da ONU demonstram que como um grupo, os 36 países comprometidos com Kyoto podem alcançar a meta de 5%. Entretanto, este progresso aconteceu devido, principalmente, a um único episódio na década de 1990, quando os estados ex-comunistas do leste europeu reduziram drasticamente as suas emissões de GEE ao fechar e modernizar indústrias altamente poluentes da era Soviética.
Nos outros lugares, a situação é mais difícil. Yvo De Boer, chefe do secretariado de mudanças climáticas da ONU, disse que os países industrializados precisavam “tomar muitas ações domésticas” para alcançar suas metas. “Mas felizmente, eles ainda têm alguns anos para alcançar estas metas, pois em alguns casos, não será fácil,” disse ele.
Entre os piores casos, está o Canadá, o atual presidente das discussões climáticas da ONU, e que este ano foi o primeiro país a anunciar a sua desistência em alcançar a meta de 6% em Kyoto. Ao contrario, as emissões do Canadá deram um salto, crescendo 29%.
Com a produção de petróleo crescendo nas areias de Alberta, o governo conservador não viu outra saída além de pular fora de Kyoto. A Ministra do Meio Ambiente do Canadá, Rona Ambrose, demonstrou interesse no rival de Kyoto, o pacto Ásia-Pacífico, liderado pelos Estados Unidos, o qual não possui metas, e disse que o governo está trabalhando em uma solução “made-in-Canadá”.
O Japão também tem um longo caminho a frente para alcançar as suas reduções. Se não for tomada nenhuma medida adicional, as previsões da ONU indicam que as emissões japonesas crescerão 6%, ao invés de diminuir na mesma taxa. Um representante oficial da divisão de mudanças climáticas do Ministério do Meio Ambiente japonês, Aiko Takemoto, notou que o principal aumento nas emissões aconteceu durante a década de 90, e que a previsão é que as emissões sejam reduzidas. Segundo ele, o plano para alcançar Kyoto, implementado no ano passado, ajudará o Japão a alcançar a sua meta até 2012.
O impacto desta nova abordagem mais agressiva será constatado entre hoje e 2008, quando o governo tomará medidas mais rígidas, disse Takemoto. As indústrias, usinas e o governo japonês também estão comprando créditos de carbono de países em desenvolvimento, onde podem ser creditadas reduções nas emissões através de projetos agrícolas ou industriais.
“Temos certeza que alcançaremos a meta,” disse Takemoto. “Se julgarmos que o atual plano não é suficiente, introduziremos medidas mais rígidas. Não desistiremos.” O governo também introduziu soluções ‘low tech’, como pedir aos trabalhadores que vistam-se apropriadamente para reduzir o uso de ar condicionados, tanto no verão como no inverno. Em junho, foram anunciados planos de testes da tecnologia de captura e estocagem de carbono.
A União Européia, talvez a maior campeã do Protocolo de Kyoto, é a que está indo melhor. Mas mesmo lá, as últimas estatísticas são preocupantes. A UE acredita que pode alcançar a sua meta de reduzir as emissões em 8% até 2012, mas somente com a completa implementação do esquema de comércio de emissões, e dois grandes “Se”.
Primeiro, países como a França e a Alemanha devem introduzir políticas ambientais que atualmente estão em fase de planejamento. Segundo, muitos devem utilizar integralmente os créditos de carbono para investimentos em projetos de tecnologias limpas em países em desenvolvimento.
“É uma lista de coisas que precisam ser implementadas para alcançar a meta,” disse André Jols da Agência Européia de Meio Ambiente. “Basicamente tudo isso tem que acontecer. Se não, teremos um problema.” Segundo a Agência Européia de Meio Ambiente as emissões do bloco aumentaram em 18 milhões de toneladas, ou 0.4%, entre 2003 e 2004.
A Espanha foi a maior culpada, liberando 19.8 milhões de toneladas de GEE a mais em 2004 do que no ano anterior. Parte do aumento foi atribuído a troca de combustível para o fóssil devido ao déficit de energia gerada por fontes hídricas causado pela seca. Mas há alguns pontos positivos. A Inglaterra, a qual se beneficiou pela troca de carvão nas usinas de energia para o gás natural, e a Suécia devem alcançar as suas metas com as políticas atuais.
Os suécos esperam até mesmo superar a sua meta de Kyoto, a qual permite um aumento nas emissões de 4%. “A Suécia escolheu uma meta mais ambiciosa do que nossos compromissos para com Kyoto: As emissões de GEE irão decair 4% até 2010 e 25% até 2030,” disse a ex-Ministra do Meio Ambiente, Lena Sommestad.
(CarbonoBrasil, com informações de Associated Press, 10/10/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=15504&iTipo=5&idioma=1