Usina de Dardanelos consolida crime ambiental
2006-10-11
Mesmo com um estudo de impacto ambiental fajuto e seis ações que a contestam na Justiça, a hidrelétrica de Dardanelos, em Mato Grosso, foi a leilão ontem. O caso é exemplar de como interesses conjuntos de governos estadual e federal e de empreiteiras podem atropelar a legislação e o próprio discurso do governo e autorizar um crime ambiental.
Dardanelos não está sendo questionada pelo Ministério Público por preocupações com "o estresse dos vaga-lumes" versus a necessidade de evitar um apagão no futuro próximo. A hidrelétrica é economicamente insustentável, socialmente perigosa e ambientalmente desastrosa, segundo demonstraram não só estudos técnicos como o seu relatório de impacto.
Não há clareza sobre quanta energia a usina poderá, de fato, oferecer. Em agosto de 2005, durante as audiências públicas realizadas pela Eletronorte em Aripuanã, município que receberá a usina, o valor apresentado era de 99 megawatts para uma capacidade instalada de 261 megawatts -um valor abaixo da média nacional de 50% de diferença entre a capacidade instalada e a energia firme. Isso acontece porque o rio Aripuanã tem vazão variável, abaixo da capacidade da usina em boa parte do ano.
Em outubro de 2005, antes da primeira tentativa de vender a hidrelétrica, o valor da energia garantida foi alterado literalmente por decreto: a portaria 511 do Ministério de Minas e Energia determinava a energia garantida de 143 megawatts, valor que cresceu ainda mais para o leilão de ontem: 155 MW. A vazão do rio, no entanto, continuou a mesma.
A própria Eletronorte admite que a usina acabará com qualquer pretensão de Aripuanã de aproveitar as cachoeiras das Andorinhas e dos Dardanelos para se tornar um pólo de ecoturismo -como previa o Ministério do Meio Ambiente. As cachoeiras, que caem de cem metros bem no meio da floresta, estão entre os cenários mais espetaculares da Amazônia e terão alteração permanente e irreversível.
Aripuanã, ao que tudo indica, continuará conhecido apenas como o município campeão de desmatamento da Amazônia.
(Por Caudio Angelo, Folha de S. Paulo, 11/10/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1110200617.htm