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2006-10-11
Os Inupiaq - como são chamados os esquimós do norte do Alasca - do povoado de Shishmaref, no estado americano do Alasca, viveram durante gerações na ilha, mas com o aumento no nível das águas em todo o território e as destruições provocadas pelas violentas tempestades, estão sendo forçados a se afastar dos mares de onde sempre tiraram seu sustento.

A angústia no povoado do Alasca é um exemplo iminente dos efeitos dramáticos do aquecimento global, tanto quanto também desafia o estilo de vida de toda a comunidade. Ventos varrem a ilha de lado a lado e as águas profundas do mar Chuckchi, ao norte do estreito de Bering, a apenas 150 quilômetros da Rússia.

Repetidas e violentas ondas destruíram barcos, reservas de peixes e armazéns que, contudo, não representam a verdadeira ameaça, alertou um oficial que observou o êxodo do povoado. Uma casa desabou e cerca de 20 moradores tiveram que deixar o litoral. "A cada ano nos angustiamos com a possibilidade de que a próxima tempestade seja aquela que nos destruirá por completo" disse Luci Eningowuk, presidente da Coalizão de Erosão e de Realocação de Shishmaref.

Aproximadamente 600 pessoas, em sua maioria Inupiaq, moram na ilha, situada cerca de 200 Km ao norte da cidade mais próxima, Nome, de onde um pequeno avião leva visitantes à ilha. O povoado, na ponta de uma ilha de 600 metros de largura e cinco quilômetros de extensão, situa-se sobre solo gelado conhecido como "permafrost", que é vulnerável à erosão e ao aumento de temperatura. "Há um significativo aquecimento no Alasca há pelo menos 30 anos. A temperatura do ar está aumentando e a temperatura no solo congelado também", afirmou Vladimir Romanovsky, professor de geofísica na University do Alasca em Fairbanks.

O descongelamento torna o permafrost mais vulnerável às inundações causadas pelo derretimento das banquisas e geleiras, que provocam o aumento no nível do mar, acrescentou Romanovsky.

Deborah Williams, ex-diretora-executiva da Fundação de Conservação do Alasca, advertiu no ano passado que o estado americano estava em risco. "O Alasca é a ponta de um iceberg derretendo, ou um canário numa mina de carvão à beira do colapso", alertou em abril de 2005.

Os canários são comumente usados como "sentinelas" por mineiros de carvão. Por serem muito sensíveis, estes animais morrem ao menor sinal de vazamento de gás, alertando os mineiros a saírem imediatamente do local.

Robert Corell apresentou ao comitê do Senado americano em 2004 um estudo sobre o impacto da mudança climática no Ártico. "Mudanças climáticas são mais comuns e estão sendo sentidas mais intensamente na região do Ártico, disse Corell aos parlamentares. Para os habitantes de Shishmaref, os efeitos das mudanças climáticas são dolorosamente reais.

Em 2002, os moradores decidiram numa votação deixar a ilha rumo ao continente e nove áreas para seu assentamento estão sendo consideradas. "Assim que a comunidade decidir o local, provavelmente não haverá outros cinco anos até que nós realmente comecemos a mudar alguma coisa", destacou o responsável pelo planejamento de transporte do povoado, Tony Weyiouanna.

Weyiouanna estimou que o êxodo custaria entre 160 milhões e 200 milhões de dólares, e que mais dinheiro seria necessário para construir um novo povoado. Os Inupiaq habitam a ilha há 4 mil anos, acrescentou. "Nós somos pessoas acostumadas às áreas litorâneas. O mar é de onde vem nossa principal nutrição".

Para Eningowuk, presidente da realocação, a integração a uma outra comunidade seria inaceitável. "Realocar nossa comunidade para uma área distante de nosso território de origem teria um impacto devastador na forma como existimos e quem nós somos" criticou.

"A união com outra comunidade não é concebível (porque) disseminar nossa comunidade é sinônimo de aniquilamento" ressaltou. "Nós somos uma comunidade ligada por laços familiares, objetivos em comum, valores e tradições. Nós somos diferentes de nossos vizinhos". Para o morador do povoado Ardith Weyiouanna, o êxodo para a terra-firme seria "uma mudança muito grande. Outro estilo de vida; uma nova vida com inúmeras conexões diferentes com o território".
(AFP, 11/10/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/rss/ler.php?id=27263

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