Justiça espanhola ajuda ambientalistas a impedir derrubada de floresta
2006-10-11
Organizações ecologistas da Espanha conseguiram nesta segunda-feira suspender o corte de uma floresta milenar que é habitat de aves em vias de extinção e onde se planeja construir um complexo urbanístico. Após levantar sua classificação como área protegida, a terra foi vendida pelo preço mínimo do leilão. O projeto urbanístico, que implica cortar milhares de arvores centenárias, inclui a construção de 1,6 mil casas de campo de luxo, dois hotéis cinco estrelas e um campo de golfe, em uma área de 215 hectares em Navas del Marqués, província de Ávila, 75 quilômetros a noroeste de Madri.
Antonio Vercher, promotor especial do Meio Ambiente, ordenou nesta segunda-feira que o prefeito de Las Navas del Marqués, membro do centro-direitista Partido Popular (PP), que suspendesse o corte de árvores, cumprindo uma sentença do Superior Tribunal de Justiça da Comunidade Autônoma de Castilla e Leon, à qual essa localidade pertence. A ministra do Meio Ambiente, Cristina Narbona, de quem depende o promotor, declarou que é “extraordinariamente importante” que a Justiça reconduza o caso positivamente e não deixe impune a empresa promotora, Residencial Aguas Nuevas S. L.
Embora essa sentença seja da semana passada, o prefeito Gerardo Pérez permitiu que a companhia responsável pelo projeto imobiliário iniciasse o desmatamento no último dia 7, que durou até meio-dia de ontem, período em que foram cortadas 1,5 mil árvores centenárias. A companhia argumentou que a sentença não era firme e não havia sido comunicada formalmente. O local fica dentro da Zona de Especial Proteção para as Aves, que está incluído na lista de Áreas Importantes para as Aves (IBAS) elaborado pela Birdlife, sociedade científica internacional da qual a Espanha faz parte.
Apesar de o governo de Castilla e Leon aceitar essas classificações, requalificou 215 hectares para que pudessem ser urbanizados e as levou a leilão por US$ 12 milhões. O construtor ligado ao PP, Francisco Gómez, foi o único que se apresentou e arrematou o terreno por US$ 6,3 o metro quadrado, que era o preço mínimo. Uma das riquezas naturais da região afetada é a águia negra, catalogada por organizações científicas com espécie em risco extinção, e da qual existem 322 casais em toda a Espanha, várias delas em Las Navas del Marqués.
A água negra pode medir até um metro de altura e quando abre as asas chega à extensão de 1,60 metro de ponta a ponta. Pode ser encontrada na península ibérica entre fevereiro ou março e setembro ou outubro. Por seu caráter solitário e arisco é especialmente vulnerável às mudanças do habitat onde faz seus ninhos, especialmente pela irrupção de construções e de comunidades humanas. Outra espécie ameaçada, da qual há cinco ou seis exemplares em Las Navas del Marqués, é a águia imperial.
Raúl Urquiaga, diretor da ONG Grama, disse à IPS que a suspensão do desmatamento “é um passo adiante e é fruto da pressão das ONGs”. Mas acrescentou que a suspensão “pode ser momentânea se não prosperarem as denúncias contra a prefeitura e a construtora, por crimes contra o meio ambiente’. Oito ONGs ecológicas, entre elas Grama, Greenpeace, Centaurea, Sociedade Espanhola de Ornitologia e Adena, apresentaram nesta segunda-feira uma denúncia à Promotoria Especial de Meio Ambiente e Urbanismo, contra a empresa e o prefeito que permitiu as operações denunciadas.
(Por Tito Drago, Envolverde, 10/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23344&edt=1