Era com apreensão que o pescador Zeli Coimbra, 54 anos, mirava, ontem, as águas do Rio dos
Sinos, em Sapucaia do Sul, onde milhares de peixes bóiam, mortos, desde sábado (07/10). O
ribeirinho depende do rio para sustentar a família.
- Agora não tenho mais nada para comer a não ser arroz e feijão. Quero ver como vão punir os
responsáveis por essa mortandade - disse Coimbra.
Cerca de 60 pessoas, entre policiais militares, ambientalistas, funcionários públicos e
voluntários trabalharam o dia todo em uma força-tarefa para tentar conter o deslocamento das
toneladas de peixes pelo curso do Rio dos Sinos, entre São Leopoldo e Sapucaia do Sul.
Duas bóias de retenção foram colocadas ontem no rio de maneira a formar barreiras de contenção
dos animais que apodrecem no leito. Segundo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam),
que coordena a operação, isso deve facilitar o trabalho de remoção das espécies e evitar que
os peixes cheguem até a central de captação da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan),
em Esteio.
Estimativa é de que 1 milhão de peixes tenha morrido
De acordo com a Corsan, a água tem passado por uma série de análises e, até ontem, não havia
sido constatado nenhum tipo de contaminação. Segundo a companhia, não há motivo para a
população se preocupar com o consumo. Coletas periódicas estão sendo feitas no ponto de
captação de Esteio.
Amostras de peixes e água estão sendo coletadas ao longo de 12 quilômetros do rio. Ao menos 13
espécies atingidas já foram identificadas. Segundo o biólogo e diretor técnico da Fepam,
Jackson Müller, duas equipes investigam empresas que despejam efluentes no Arroio Portão.
- Estamos conferindo as estações de tratamento de efluentes e coletando água e peixes para
fazer uma busca minuciosa até a origem dessa mortandade - afirma o biólogo.
O presidente do Instituto Martim Pescador, Henrique Prieto, estima que 1 milhão de peixes
tenha morrido na confluência do Arroio Portão com o Rio dos Sinos.
- Em 40 anos, eu nunca vi algo assim. É assustador - comentou o líder da organização
não-governamental.
Ainda no final de semana, Prieto colheu as assinaturas de 52 pessoas que testemunharam a
mortandade dos peixes já no sábado à tarde. O grupo passeava de barco por 45 quilômetros, a
partir da Capital até São Leopoldo, quando a massa de peixes foi avistada. Com fotos que
documentam o desastre, a lista deve ser encaminhada ao Ministério Público.
Atualmente, um total de 150 processos por crimes ambientais tramitam nas promotorias de São
Leopoldo e Estância Velha. Deste total, 15 têm ligação com o lançamento de efluentes químicos
em rios e arroios. Segundo a Defesa Civil, hoje devem ser iniciadas as análises bioquímicas no
laboratório da Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado.
(Por Taís Grun,
Zero
Hora, 10/10/2006)