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2006-10-10
O principal risco ambiental do planeta não são os alimentos contaminados nem as doenças que proliferam por causa da mudança climática, mas os resíduos de urânio de reatores e mísseis, alertou o especialista norte-americano Asaf Durakovic, durante o fórum ambiental encerrados sábado em Roma. As maiores potências nucleares – Estados Unidos, China, França, Grã-Bretanha e Rússia – contam atualmente como o equivalente a cem milhões de bombas como a de Hiroshima, o suficiente para destruir sete vezes a Terra, afirmou Durakovic, diretor do Uranium Medical Research Center (UMRC – Centro de Pesquisa Médica sobre o Urânio).

Durakovic falou durante o IV Fórum Internacional para Jornalistas sobre a Proteção da Natureza, que aconteceu entre quarta-feira passada e sábado, organizado pela não-governamental Associação Cultural Greenaccord, em Monte Porzio Catone, uma localidade próxima de Roma. Desde a Guerra do Golfo contra o Iraque, em 1991, até agora, foram lançados projéteis de urânio empobrecido com 3.601 toneladas de material radioaivo, informou. O UMRC, uma ONG fundada em 1997, com sede nos Estados Unidos e no Canadá, questiona o uso da expressão “urânio empobrecido”, muito utilizada pelos militares.

O urânio natural extraído da natureza é enriquecido para ser usado como combustível nuclear, em um processo que dá origem, como subproduto, ao urânio empobrecido. Tanto este quanto o natural são compostos em mais de 99% do isótopo U328 (um dos elementos que têm o mesmo número de prótons e diferente número de nêutrons, neste caso do urânio). O material supostamente empobrecido só perde menos de 1% do urânio total nos isótopos U234 e U235. Assim, o urânio empobrecido é quase tão concentrado quanto o natural e pode conter traços de plutônio (U236), afirma o UMRC.

Ex-coronel do exército dos Estados Unidos, onde trabalhou como médico, Durakovic percebeu os riscos das novas armas atômicas quando começou a atender soldados norte-americanos que regressavam do Iraque contaminados com a radiação emitida por projéteis que também foram usados nos conflitos de secessão dos Balcãs nos anos 90, na ofensiva norte-americana contra o Afeganistão desde 2001, e na segunda guerra contra o Iraque, iniciada em março de 2003. Em 2000, Durakovic já era, há 12 anos, especialista em medicina nuclear do Departamento de Defesa. O governo o colocou para investigar a chamada síndrome da Guerra do Golfo. Mas diante de suas descobertas, recebeu ordens para suspender a pesquisa, sob pena de perder o emprego.

Durakovic continuou pesquisando por conta própria e descobriu que os veteranos não só tinham o isótopo U238 em seus organismos, mas também plutônio. Sabe-se agora que boa parte da munição com urânio empobrecido fabricada nos Estados Unidos contém esse outro elemento radioativo. Os mísseis com isótopos de urânio, que perfuram facilmente qualquer tanque de guerra, espalham uma nuvem radioativa na atmosfera. A contaminação ocorre principalmente quando estes resíduos são inalados pelos soldados ou pelas comunidades atacadas. Através do sistema respiratório, o urânio chega aos ossos e acaba comprometendo o sistema imunológico, explicou o especialista.

A equipe do UMRC também analisou a contaminação radioativa no Afeganistão. “Encontrei U236 (plutônio) em todos meus pacientes. Este isótopo não existe na natureza. Foi produzido pelo homem nestes 15 anos de guerra nuclear”, disse o médico. Nos últimos 60 anos, houve um grande acúmulo de lixo radioativo no planeta, que coloca em risco a vida terrestre, acrescentou. Há meio milhão de metros cúbicos destes resíduos de alto nível gerados pela produção de armas nucleares e mais de 40 mil toneladas de combustível usado nos reatores das centrais de geração de energia, segundo Durakovic.

Todas as alternativas de armazenamento desses dejetos aplicadas até hoje são inseguras, acrescentou o especialista. Em 1957, houve uma explosão em uma usina russa em Kyshtym, nos Montes Urais, por causa do calor gerado pela grande concentração de resíduos radioativos em um só lugar, recordou. Em sua opinião, a proposta de lançar contêineres com este lixo no espaço é uma grande bobagem, por causa do elevado custo e do risco de explosões no lançamento dos foguetes. Os depósitos marinhos foram usados no passado, mas já não são aceitos. “Todos os depósitos que existem são inseguros, verdadeiras bombas de tempo”, advertiu este especialista em radiações ionizantes. A situação é mais grave nos países em desenvolvimento.

“Um novo informe da Universidade de Ibadan destacou a total ineficácia de um depósito de lixo radioativo na Nigéria”, informou. Além disso, os testes com armas nucleares feitos tanto no mar quanto em terra também deixam grandes quantidades de resíduos e danos ambientais, destacou Durakovic. “Estamos diante de um problema, que não percebemos porque é invisível. É necessário deixar de produzir armas radioativas. Mas a fabricação não pára por causa dos muitos interesses econômicos em jogo. A retirada e o acúmulo de resíduos nucleares movem milhares de bilhões de dólares”, ressaltou o especialista. Em sua opinião, a energia atômica não poderá ser vista nunca como alternativa aos combustíveis que causam o aquecimento global. “Pode causar um efeito contrário, o inverno nuclear, pelo enorme risco de contaminação”, concluiu.
(Por Roberto Villar Belmonte, Envolverde, 09/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23286&edt=1

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