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2006-10-09
Dizer que existe uma guerra no Norte do Espírito Santo pela posse da água é um exagero. Mas é correto, no entanto, afirmar que há muita discórdia por causa dela. Questões como falta de entendimento entre vizinhos por retenção da água acabam gerando operações policiais no campo "como se fosse caso de Polícia", reclama Ozílio Partelli, de Vila Valério, que revolucionou a cafeicultura do Estado com sua técnica de adensamento do café. Para ele, o problema é mais amplo e passa por uma política de armazenamento natural da água. Criticando os que atribuem ao desmatamento a responsabilidade única pela seca, Partelli diz que, na verdade, o grande culpado é o Pró-Várzea, um programa com financiamento de um banco alemão adotado no início do governo Élcio Álvares e desativado na administração Vitor Buaiz.

O principal objetivo do Pró-Várzea, segundo Partelli, foi drenar os brejos do Estado para plantio de arroz e capim. Antes dele havia os represamentos naturais da água, formados por taboais e pântanos. Hoje, quase toda a área alagada de Vila Valério, por exemplo, desapareceu. Para piorar o quadro, não existem nem arroz nem capim. "O Pró-Várzea, sentencia Partelli, é o grande responsável pela crise atual que atinge o Norte do Estado, pois rebaixou os lençóis freáticos. Por trás dele estava a Emater, que está agora orientando o agricultor a fazer poços para tirar água. Se o Pró-Várzea deu errado, por que fazer buraco, que é pior que o Pró-Várzea?" No seu entender, o governo está na obrigação de construir represes, criando assim, uma rede de armazenamento de água, para ressarcir os agricultores pela perda dos brejos e taboais.

Partelli diz que a agricultura só tem uma única maneira agora de produzir: com água abundante, pois hoje ninguém planta um único pé de café antes de instalar equipamentos de irrigação. Segundo ele, é imprescindível uma política de armazenamento de água, para garantir a sobrevivência da agricultura no Norte do Estado. "Aqui em Vila Valério - acrescenta - já estamos chamando os produtores para se unir e construir coletivamente as barragens. O que era brejo tem que voltar a ter a função de brejo. Não adianta a Emcapa entrar com uma variedade de café resistente à seca, porque sem a água ele não vai sobreviver. E ele também não pode servir como alternativa da água".

O ex-secretário de Agricultura do Governo Élcio, Francisco José Junger, concorda que foi inoportuna a adoção do Pró-Várzea. "As coisas, de certo modo, foram feitas sem o menor critério técnico, porque havia a ânsia de se aproveitar um dinheiro fácil oferecido pela Organização dos Estados Americanos (OEA) através de um banco alemão. Era tanto dinheiro que a Cermaq, que hoje se chama Cida, chegou a comprar grande quantidade de máquinas para drenar as várzeas", informa Junger. O volume de recursos injetados no programa é proporcional ao desastre provocado por ele na agricultura do Norte capixaba: só o Banestes liberou mais de 11 milhões de marcos alemães. Ainda hoje, há uma sobra de recursos da ordem de 8 milhões de marcos.

O professor Orlando Caliman, da Ufes, também estende que o Pró-Várzea é um dos grandes vilões da crise por que passa hoje a região. "Foram políticas agrícolas inadequadas, que contribuíram para a situação", afirma. Mas, para ele, o Norte continua sendo ainda a região do Estado com mais perspectiva de desenvolvimento. "Muito mais do que o Sul", observa com uma boa dose de otimismo. Ela tem uma grande vocação para a fruticultura, que já entrou na região, mas precisa evitar, para o seu desenvolvimento, acidentes fatais como o Pró-Várzea. Caliman também aconselha a não acolher indústrias que não estejam associadas à produção local. "Para aumentar o emprego da mão-de-obra, é bom frisar que a indústria só tem efeito quando atende a vocação da região onde vai se implantar", assegura.

Em Pinheiro, Moisés Covre, presidente da Associação dos Irrigantes, diz que a tendência da área irrigada no município é aumentar, só faltando para isso a regulamentação do uso da água, "porque o agricultor fica com medo de investir em equipamentos e depois não ter água". A partir do momento em que esse problema for resolvido, ele garante que a expansão da área irrigada chegará tranqüilamente a 20 mil hectares. "Enquanto a regulamentação não vem e o governo permanece inerte com relação à execução de um programa de barragens, a água está indo embora para o mar", afirma.

Com razão Covre argumenta, em defesa dos proprietários rurais, que há um esforço por parte deles para investir e dar respostas aos problemas sociais gerados pela seca. "A questão do desemprego, por exemplo. Pinheiro tem aproximadamente 2 mil hectares de mamão, empregando quatro pessoas por hectare. Temos, portanto, oito mil pessoas na lavoura de mamão e com salários acima do mínimo. Quero saber qual a indústria que emprega nessa proporção? Quando ouvimos daqui, governos dizendo que vão trazer indústria para o interior, ficamos aflitos. Eles deviam estar anunciando que vão fazer uma legislação de água e barragens para segurar a água, porque do resto a gente cuida".

Moisés, assim como Partelli, não nega que a discórdia pela água existe no campo, mas cada região vai montando mecanismos próprios de controle dos conflitos, já que o governo, quando aparece, complica. Em Barra de São Francisco, a Cooperativa dos Produtores Rurais usa o rádio para orientar os agricultores, está patrocinando o reflorestamento de essências e recomendando o repovoamento das capoeiras, além de orientar o agricultor a fazer caixas de água para conter a queda de água na forma de enxurradas sobre os terrenos. Segundo Edilberto de Assis, diretor da Cooperativa, graças a recursos externos obtidos na Itália, através da Fundação Cipec, os agricultores puderam contar com horas de trator e com mais de 300 novas reservas de água (pequenas barragens). As caixas de água estão, segundo ele, substituindo a função da mata, retendo a água que desce dos morros. "Há 50 anos que estamos ajudando a água a ir embora através do desmatamento. Agora, juntamos os produtores rurais a fim de achar um caminho para combater a seca. Estamos, enfim, entrando na era da ecologia, que não ceio pela consciência e sim pela ameaça à sobrevivência do agricultor. A longo prazo, vai ser restabelecida a vida normal do município", ele festeja em plena crise.

Nem a inclusão, ano passado, de 27 municípios do Norte capixaba na área de influência da Sudene, gerando expectativa de novos investimentos, reduz a desconfiança dos principais líderes da região. "Até agora o que nos deram foi um atestado de pobreza", reage o ex-prefeito de Boa Esperança, Amaro Covre. Ele tornou-se conhecido nos anos 80 por causa de uma administração comunitária que tirou o município da falência e o elevou à categoria de grande produtor. De acordo com esse projeto comunitário, as decisões da administração municipal eram compartilhadas com os conselhos comunitários que Amaro instalou em cada centro de irradiação, substituindo os antigos distritos. O movimento originou a substituição da pecuária por propriedades diversificadas, nascendo no Estado as culturas combinadas. Hoje, afastado da política, Amaro persegue os mesmos objetivos, criando novos centros de decisão junto aos agricultores, para enfrentar a seca e cuida de uma pequena propriedade com cultura diversificada.
(Por Rogério Medeiros, Século Diário, 09/10/2006)
http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/reportagens/rogerio/report26.asp

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