Segunda fase do levantamento de fauna da bacia do rio São Francisco começa este mês
2006-10-09
Até o final de outubro, o Ibama começa a segunda fase do levantamento de fauna da bacia do São Francisco. Um resultado parcial relativo à primeira fase foi apresentado ao Ministério do Meio Ambiente na última quarta-feira , dia de São Francisco, protetor dos animais. Com o estudo, que começou em janeiro, o Ibama pretende fazer um Zoneamento Ambiental da bacia e analisar possíveis locais para criação de unidades de conservação. Outro objetivo do estudo é identificar e mapear os locais de ocorrência de espécies criticamente ameaçadas de extinção e, assim, planejar ações para conservação da biodiversidade da bacia.
A primeira fase do levantamento terminou em julho e os grupos estudados pelos centros especializados do Ibama foram: predadores naturais (carnívoros), primatas brasileiros, répteis, anfíbios e aves silvestres. O Estudo de Levantamento de Fauna está sendo supervisionado pela Coordenação Geral de Fauna do Ibama.
Segundo o levantamento preliminar dos técnicos dos diversos centros especializado do Ibama, as alterações causadas pelo homem verificadas em todas as localidades de estudo (pastoreio excessivo, queimadas, extração seletiva) e a ausência de algumas espécies endêmicas e ameaçadas são indicativos de perda na biodiversidade da bacia do São Francisco.
Predadores naturais
Apenas nesta primeira fase, os técnicos do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação dos Predadores Naturais do Ibama (Cenap) identificaram 37 espécies de mamíferos de médio e grande porte, das quais 11 estão na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção. Dentre as espécies ameaçadas de extinção foram identificadas oito espécies de carnívoros, sendo seis felinos.
Aparentemente, a onça pintada está extinta na região da Foz do Rio São Francisco. A região do futuro Parque Nacional do Boqueirão da Onça (BA) abriga uma população de onças pintadas e o estabelecimento de uma rede de Unidades de Conservação na região pode garantir a preservação de uma população mínima viável no Bioma Caatinga.
Primatas
O Centro de Primatas Brasileiros do Ibama (CPB) identificou nove espécies de primatas: Alouatta caraya, Alouatta guariba, Cebus nigritus, Cebus libidinosus, Cebus xanthosternos, Callicebus coimbrai, Callicebus nigrifrons, Callithrix jacchus, e Callithrix penicillata.
Os técnicos do CPB registraram, em uma pequena e única área, em toda Bacia do São Francisco, a ocorrência conjunta de grupos de guigó (C.coimbrai) e de macaco-prego-do-peito-amarelo (C. xanthosternos), ambos considerados “criticamente em perigo de extinção”. Também foi localizada uma população de C. xanthosternos em manguezais junto à foz, que está sob risco extremo devido ao contínuo avanço do mar sobre o continente, e que deverá ser monitorada.
Répteis e anfíbios
No relatório apresentado ao MMA, o Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios do Ibama (RAN) chamou atenção para as lagoas marginais do Rio São Francisco e de seus afluentes, indicando que estes são ambientes preferenciais, tanto para as populações de quelônios como de jacarés, em especial, C. latirostris. As lagoas são utilizadas como locais de abrigo, reprodução, berçário e alimentação, tornando-as imprescindíveis para a manutenção dos processos populacionais.
Sobre os quelônios, os pesquisadores do RAN constataram a ocorrência de Acantochelys radiolata no Parque Nacional das Cavernas do Peruaçú. Essa espécie está relacionada como “Quase Ameaçada” na Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
Entre os anfíbios anuros (sem cauda), o RAN registrou um total de 66 espécies, o que representa cerca de 52% do total de espécies de anfíbios catalogados na bacia do São Francisco.
Entre serpentes, anfisbenídeos (popularmente, cobra-de-duas-cabeças) e lagartos foram registradas 47 espécies. O RAN destacou a importância dos répteis da região dos campos de dunas de Xique-Xique e Santo Inácio e campos de dunas de Casanova, no trecho do médio São Francisco, estado da Bahia, de onde 16 das 41 espécies de lagartos e anfisbenídeos registradas são endêmicas, isto é, só existem nestes lugares.
Aves
O levantamento do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres do Ibama (Cemave) indicou a ocorrência de 145 espécies de aves na Bacia do São Francisco. Destas, oito são exclusivas do bioma caatinga, três são consideradas mundialmente como “Quase Ameaçadas de extinção” e três são de alta sensibilidade às ações humanas, o que indica a importância destas áreas para a conservação da biodiversidade local.
(Por Gustavo Rick, Ibama, 06/10/2006)
http://www.ibama.gov.br/novo_ibama/paginas/materia.php?id_arq=4523