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2006-10-09
Estudos já associam o uso de pesticidas lícitos e ilícitos em Mato Grosso para manter a potência agrícola à incidência de tumores, uma grave preocupação para a saúde pública e um caso recente de polícia.

O Estado aparece entre 11 unidades da Federação em que o uso de agrotóxicos é comparado ao aumento de casos de câncer de próstata, testículos, mama e ovário, como aponta o cientista Sérgio Koifman, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), principal referência em pesquisa no país, em artigo publicado na revista Ciência e Saúde, há 4 anos.

No solo e no organismo humano, esses venenos são cumulativos, ou seja, não têm como limpá-los, contaminando lençóis freáticos e nos tornando susceptíveis não só ao câncer, mas a diversas doenças.

“Intoxicação crônica, imunoalergias, enfermidades neurológicas, como neurite (inflamação de terminações nervosas: ouvidos, olhos, nariz, boca), mal de parkinson, câncer, má-formação fetal (anencefalias – crianças que nascem sem cérebro – lábio leporino, espinha bífida e outros”, cita o médico Wanderley Pignatti, professor do departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que pesquisa o assunto em várias frentes.

Pignatti tem uma história de cinema para contar e que está investigando, junto com especialistas da Fiocruz e da ong mais antiga do país, fundada em 1961, a Fase - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional.

Nos dias 1,2 e 3 de março, uma chuva imperceptível de pesticida caiu sobre Lucas do Rio Verde (360 quilômetros de Cuiabá) – coração da soja, do milho e do algodão no Estado. No campo e na cidade, para o espanto dos quase 30 mil moradores, onde havia folhas, seja em outros plantios, sobretudo os de hortaliças, ou em singelos vasos residenciais, como os de samambaias, por exemplo, nada restou, além do talo.

Todo o verde queimou. Toda a jardinagem da cidade, que se orgulha de ter um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), morreu necrosada. “Ventou durante uma pulverização aérea, o que é muito comum de acontecer, e o vento levou o veneno para além das lavouras que se pretendia proteger”, explica Pignatti.

O acidente dobrou o número de pacientes nas unidades de saúde da cidade, conforme apurou a reportagem. A Polícia Civil abriu inquérito, ainda não concluído. A Promotoria recebeu representações e as oficializou, mas ainda não fez denúncias. Sete meses depois, não há punidos.

Como se não bastassem os malefícios que os venenos regulares causam ao meio ambiente e ao homem, a Polícia Federal de Mato Grosso investiga, em cinco inquéritos, a ação de quadrilhas especializadas em contrabando.

Produtos vindos principalmente da China e que dão entrada pelas portas dos fundos do país, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, não passam pelo controle sanitário dos Ministério da Saúde, Agricultura e Meio Ambiente.

Na última semana, foram 3,9 toneladas apreendidas em Nova Mutum (269 quilômetros de Cuiabá). É justamente entre Nova Mutum e Sorriso que fica Lucas do Rio Verde. Um mundo agrícola milionário, nova trilha da bandidagem.

Uma reação contrária a esse tipo de crime vem do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG). O advogado da categoria industrial, Paulo Roberto Calmon, que esteve em Cuiabá por conta da última apreensão, diz que tanto é arriscado o uso de venenos que a lei é dura até para seus clientes.

Moradores sentem “deriva” 2 horas depois
Moradores de Lucas do Rio Verde, do campo e da cidade, começaram a perceber que algo estava estranho apenas duas horas após a pulverização na aérea ser levada pelo vento. A esse fenômeno, muito comum, chamam de “deriva”.

O susto foi geral, conta a bióloga Lindonésia Andrade, que mora em Lucas. Ela é coordenadora do setor agroambiental do Instituto Padre Peter, uma ong, que além do horto, mantém uma biblioteca aberta ao público e trabalhos sociais com crianças e adolescentes. “As folhas todas ficaram como se tivessem sido furadas por cigarro aceso e depois iam amarelando e, em seguida, a planta morria”, narra. Isso em três dias. “Não sobrou uma folha na cidade, não é para assustar?” - indaga.

As folhas caíram porque o produto – um dessecante de folhas – é usado para derrubá-las e forçar o amadurecimento da soja, para um plantio igualitário e sem perdas.

No horto, 200 espécies de ervas medicinais que eram usadas para fabricação de medicamentos distribuídos gratuitamente tiveram que ser arrancadas na raiz. “Se não tivéssemos algum estoque, faltaria remédio”, diz Lindonésia. “Todo mundo viu o avião lá, mantendo a pulverização mesmo com a deriva, mas fazer o que?”

O delegado da cidade, Flávio Estringueta, ainda não concluiu o inquérito. “Estou na dependência de perícias”, justifica. Sobre o número de testemunhas que já ouviu, disse que são muitas, mas que tem 300 inquéritos para cuidar e não poderia conferia quantas foram exatamente. A promotora de Lucas, Patrícia Eleutério Campos, que está acompanhando o caso, não quis falar com a reportagem e por meio da assessoria de imprensa diz que também está dependendo da perícia da UFMT, que está em fase final.

Contrabando de pesticida mais lucrativo
Quadrilhas estão trocando assalto a banco pelo contrabando de agrotóxicos, negócio mais lucrativo e menos arriscado. É isso que preocupa o delegado federal Rodrigo Bartolamei, titular da Delegacia Fazendária da PF de Mato Grosso, na qual correm cinco inquéritos sobre o assunto.

As 3,9 toneladas que a equipe dele apreendeu semana passada foram a maior apreensão registrada este ano no país e estão estimadas em R$ 3 milhões.

Segundo ele, trata-se de um produto interessante para os plantadores, porque são vendidos a preço de banana. “Eles ficam tentados”.

Embora apreensões desse tipo sejam incomuns, a dificuldade maior da polícia, segundo Batolamei, é em flagrar usuários. Esses cometem crime ambiental. “Depois que põem na lavoura, o crime não tem mais materialidade, a não ser via exame laboratorial”, observa o delegado.

Segundo ele, as investigações no Estado continuam, não só para prender quadrilhas de contrabandistas, mas produtores rurais infratores.

Chacareiros levaram o maior prejuízo
Os chacareiros foram os maiores prejudicados com o acidente ocorrido em Lucas do Rio Verde. Perderam de 70% a 100% das hortas que ficam no cinturão verde da cidade. O presidente da Associação, Celito Trevisan, reclama não só da impunidade, mas também da indenização que ainda não chegou para ninguém. “Perdi toda a cebolinha e a salsinha”, lamenta.

A informação na cidade é a de que todos sabem qual foi o fazendeiro que fez a pulverização, que seria um dos mais ricos e violentos da região, e que isso estaria inibindo uma punição mais rápida.

As vítimas que deram entrada na ocasião foram diagnosticadas como portadoras do rotavirus. Hoje, a coordenadora de Vigilância Sanitária, Fernanda Dotto, admite que o que na época ficou configurado como um surto da virose, na verdade, foi um efeito do agrotóxico. “Dobrou o número de casos de diarréia de 24 para 54 em uma semana”.

O secretário municipal de Saúde, Paulo Angeli, diz que o sistema de atendimento a pacientes não estava preparado para fazer o diagnóstico correto, mas que a experiência acabou forçando a capacitação de funcionários. A população discutiu o assunto em audiência pública.

O Estado ficou de fazer uma análise da água, para verificar se havia sido contaminada. O Serviço de Água e Esgoto, preocupado com a demora, fez por conta própria. “Deu negativo”, afirma a responsável pelo controle de qualidade Márcia de Oliveira. Pelo menos um alívio.
(Por Keka Werneck, Diário de Cuiabá, 09/10/2006)
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