O negócio de gestão e reciclagem de lixo na União Européia (UE) é estimado em mais de US$ 130 bilhões por ano - e só uma ínfima diz respeito ao lixo eletrônico, que inclui de geladeira a telefone celular. Só que esse tipo de lixo é o que aumenta mais rapidamente - e os negócios da recuperação de matéria-prima também. Milhões de celulares são vendidos todo ano, e sua duração de vida é cada vez mais curta.
Confrontada a essa situação, a UE adotou em 2003 uma das primeiras leis no mundo introduzindo a responsabilidade do produtor para reciclar o lixo do setor. Além disso, encoraja os construtores a aderir ao "eco-design", produtos mais recicláveis e duradouros. Até dezembro próximo, o objetivo é que os 25 estados membros coletem pelo menos 4 quilos de lixo eletrônico por habitante por ano. Dependendo do tipo de produto, os países devem recuperar entre 70% e 80% e reciclar entre 50 e70%.
Os países escandinavos já coletam mais de 10 quilos. Mas outros estão longe do objetivo. A França, que produz 14 quilos desse lixo por habitante anualmente, somente a partir de 15 de novembro próximo é que começará sua coleta e tratamento. O obstáculo central tem sido quem paga a conta da reciclagem destes equipamentos? Afinal, são equipamentos que contêm materiais recicláveis como cobre, ferro, alumínio e outras commodities de valor, mas também substâncias perigosas para a saúde e o meio-ambiente (cadmium, mercúrio etc).
Na França, os fabricantes devem pagar todos os custos de gestão reciclagem. Ou seja, financiar desde envio do produto pela loja até a reciclagem. A empresas Ecologic, Eco-systems, ERp e Recyclum foram autorizadas a fazer o tratamento. "Na prática, o consumidor já pagou uma parte da reciclagem, através de uma taxa embutida na compra do aparelho", diz Melissa Shinn, da BEE, uma federação de entidades ambientais com sede em Bruxelas. Mas os fabricantes e o governo continuam relutantes a dizer quanto a mais os consumidores pagam ou vão pagar pelo produto, alegando que isso depende do custo e do montante do lixo coletado.
Estudo da Hewlett Packard argumenta que esse custo na UE é menor do que se previa - e mais barato ainda nos países onde há mais de uma empresa de reciclagem. Na Alemanha, Áustria e Espanha, o custo é de apenas alguns centavos de euro para a empresa. A reciclagem de um notebook HP é de 0,08 euros na Alemanha, 0,20 euros na Espanha e 0,39 euros na Áustria.
Ainda mais atrasada que a França, a Grã-Bretanha discute se aplica uma "taxa de reciclagem ambiental" copiando o modelo da Irlanda e Holanda. Nesses países, o fabricante paga 17 euros para reciclar um refrigerador, 5 euros por uma televisão. A Suíça, que não faz parte da UE, é um bom exemplo do que vai ocorrer na Europa e em outros países. O governo proíbe formalmente se jogar celulares no lixo comum. O consumidor deve devolvê-lo na loja, sem despesas - ou quase, porque já pagou uma taxa na compra, de cerca 50 centavos de franco suíço por um quilo de eletrônico.
A Suíça tem um claro plano nacional de recuperação de matéria-prima. Mas os ganhos com metais ainda são largamente inferiores aos gastos com a recuperação. "O sistema de coleta é caro, não é rentável ainda", diz Hans-Peter Fahmi, chefe da divisão de detritos e matérias-primas no governo federal.
No plano em direção a uma "sociedade européia de reciclagem", a UE vai reavaliar sua política em 2008. Um estudo da Universidade de Lund (Suécia) concluiu recentemente que os fabricantes de celulares, televisores e outros aparelhos eletrônicos respeitosos do meio-ambiente podem ser forçados a subvencionar os centros de detritos perigosos. Isso porque apenas três países - Suécia, Alemanha e Itália - estão no bom caminho para estimular a responsabilidade do produtor de funcionar em bases mais ecológicas.
(Por Assis Moreira,
Valor Online , 09/10/2006)