O bicudo da cana-de-açúcar (Sphenophorus levis), uma praga de solo que se protege, na terra, da aplicação de inseticidas químicos convencionais, tem gerado problemas em plantações brasileiras. Capaz de destruir 30 toneladas de cana por hectare, chegando a colocar em risco até 40% da produção, o inseto acaba de ganhar um inimigo poderoso.
Pesquisadores do Instituto Biológico de Campinas, no interior paulista, adaptaram para as necessidades brasileiras a técnica de combate biológico ao inseto adotada em mais de dez países. A solução consiste no uso de nematóides entomopatogênicos, vermes que são atraídos pelo gás carbônico emitido pelo bicudo.
“Os nematóides apresentam um comportamento de busca natural dos hospedeiros. Eles têm receptores químicos na região cefálica que permitem a localização do bicudo”, disse Luis Garrigós Leite, pesquisador do Centro Experimental do instituto. “Cultivados em culturas de bactérias, os nematóides se alimentam delas e as carregam no intestino. Ao penetrar no bicudo, os vermes liberam as bactérias para matar o inseto”, afirmou Garrigós Leite. Os nematóides são produzidos em esponjas de poliuretano, material poroso que oferece suporte biológico e oxigenação ideal para sua reprodução.
A literatura científica registra cerca de 55 espécies de nematóides entomopatogênicos dos gêneros Steinernema e Heterorhabditis. O nematóide de interesse para o controle do bicudo pertence ao gênero Steinernema. Comercializados na forma de pó para diluir em água, os nematóides podem ser pulverizados por meio de sistemas de irrigação convencionais, de modo semelhante aos produtos químicos.
“Estamos prontos para dar início à produção de nematóides in vitro e em escala industrial, para comercialização em forma de bioinseticida”, afirma Leite. De acordo com os testes preliminares realizados na fábrica piloto instalada no Instituto Biológico de Campinas, a produção inicial poderá irrigar até 3 mil hectares de cana por mês.
A produção piloto foi feita por meio de associação com a Bio Controle, empresa que atua no monitoramento e controle de pragas. A Bio Controle recebeu apoio da Fapesp, por meio do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe), para a pesquisa com os nematóides.
Leite reconhece que o número ainda é baixo se considerada a dimensão total da área atingida pelo bicudo da cana-de-açúcar, cuja estimativa é de 200 mil hectares apenas no Estado de São Paulo. “Mas a produção será ampliada com a construção de outra biofábrica de nematóides no interior paulista”, disse. A Bio Controle já adquiriu uma área de 9 mil metros quadrados em Araras (SP) e a previsão é que as instalações estejam prontas em dois anos.
(Por Thiago Romero,
Agência Fapesp, 06/10/2006)