Vinte organizações indicam que pessoas mapuches, acusadas por atentados incendiários contra empresas florestais e que estão encarceradas, podem ser inocentes. Para estas entidades, há vários anos, existem antecedentes que poderiam demonstrar que pessoas mapuches acusadas de ataques incendiários contra plantações e instalações de empresas florestais são inocentes e que se tratariam de armações elaboradas por entidades de segurança vinculadas às empresas florestais, fatos que requerem investigação urgente.
Existem pessoas condenadas a mais de 10 anos de prisão, de maneira absolutamente desproporcional e com denúncias locais e internacionais com vícios processuais, por atentados incendiários, aos quais foi dada a categoria de "terrorismo".
Estas mesmas empresas foram acusadas por auto-atentados. As organizações indicam que existem numerosos antecedentes que não foram investigados e que ficaram na mais absoluta impunidade.
Por exemplo, as denúncias formuladas pela família do ex-guarda florestal Leonardo Espinoza Fonseca, que, depois de seu suicídio, em Santiago, reconheceram para a imprensa, em princípios de 2000, que o falecido havia se envolvido em auto-atentados por ordens de seus superiores, que incluiriam o da casa patronal do Fundo Rucañanco, uma das principais causas pelas quais se aplicou, posteriormente, a Lei de Segurança do Estado e uma forte repressão e militarização na área de Collipulli. Os fatos foram confirmados pelo próprio irmão, que também havia sido guarda florestal.
Também existem as denúncias formuladas pelo operário Pedro Cifuentes, no dia 26 de agosto de 1999, à imprensa, e o recurso judicial que foi apresentado para sua proteção diante do medo de represálias. As denúncias também ficaram no ar. No jornal local de Temuco, foi publicado o seguinte: "A florestal me pressionou, me deu dinheiro para culpar os irmãos Ancalaf pelas queimadas e destroços na empresa. Me ameaçaram, dizendo que iriam me prender, e as provas que tinham eram uma montagem de fotos. Ou seja, me culpariam. Me entregaram a soma de 500 mil pesos e mais 10 mil pesos semanais".
Os relatos de guardas florestais sobre auto-atentados à imprensa de Temuco, durante o ano 2000, e que foram colocados como denúncia por alguns parlamentares, são outros exemplos de provas. "Mas os antecedentes judiciais que existem na VII Região, do ano de 2001, com relatórios periciais, para uma empresa de vigilância predial de diferentes empresas florestais, tais como Mininco, Arauco, Celco, Bio Bio, entre outras, são suficientes para questionar os processos e ações executadas por autoridades e agentes do Estado em prejuízo de pessoas mapuches, dentro da "operação paciência", impulsionada pelo ex-subsecretário do Interior Jorge Correa Sutil, durante o governo de Ricardo Lagos Escobar", declaram as organizações.
Para elas, o protesto social mapuche contra as empresas florestais, sua indústria e sua expansão, dentro dos conflitos territoriais, se transformaram, para estes grupos econômicos, com a ajuda do Estado chileno, no foco de repressão, criminalização e julgamento, cujas reivindicações foram perseguidas sob acusações de serem consideradas uma ameaça à estabilidade política e social do país.
As organizações exigem do Estado: que pare a repressão e perseguição de pessoas dentro do protesto social contra as empresas florestais como a CMPC (Mininco) e Forestal Arauco - Celco; a urgente designação de um ministro em visita, para investigar, a fundo, com resultados concretos, sobre a base das acusações de auto-atentados que envolvem empresas florestais; a revisão e anulação de todas as causas judiciais que envolvem ações contra pessoas mapuches em supostos atentados incendiários a plantações industriais de monocultivos de exóticas e instalações; e o fim dos subsídios, privilégios e protecionismos que o Estado vem defendendo em favor das questionáveis companhias florestais, nas costas do Fisco.
(Adital, 05/10/2006)