Produção de água no limite faz voltar ameaça de racionamento em SP
2006-10-06
O abastecimento de água da Grande São Paulo está no fio da navalha. Caso se repita o período de seca que atingiu a região de 1998 a 2003, a ameaça de racionamento voltará a amedrontar 18,5 milhões de pessoas. Dos 65 mil litros produzidos por segundo, em média, pelos oito sistemas da Companhia de Saneamento Básico (Sabesp), 64 mil são consumidos pela população. Para agravar a situação, as perdas comerciais e por vazamento continuam altas: de 33% a 34% do volume produzido.
“Não há uma grande folga para enfrentar o risco de uma longa estiagem”, afirma Ricardo Araújo, coordenador de Saneamento da Secretaria Estadual de Energia e Recursos Hídricos. “Mas, como ocorreu entre 1998 e 2003, os nossos técnicos têm condições de gerenciar essa situação.” Em outubro de 2003, os municípios servidos pelo Sistema Alto Cotia foram abastecidos em rodízio, esquema que, por pouco, não atingiu o Sistema Cantareira.
A ameaça de racionamento deve durar, pelo menos, mais seis anos. Na esperança de resolver o problema a curto prazo, os técnicos sugerem três opções para aumentar a produção. Até o fim de 2008 ou o início de 2009, a Sabesp deve captar água das represas Paraitinga e Biritiba-Mirim, que se encontram em fase de enchimento e integram o Sistema Alto Tietê. A produção passará de 10 mil para 15 mil litros por segundo. Para isso, é necessário ampliar de 7 mil para 9 mil litros por segundo a capacidade de tratamento da estação de Taiaçupeba e a transferência da água das represas de Paraitinga e Ponte Nova para a de Biritiba-Mirim, obras que custarão R$ 270 milhões e serão bancadas por Parceria Público Privada (PPP).
Será necessária ainda a instalação de duas adutoras, uma ligando Taiaçupeba a Suzano e Mogi das Cruzes, e outra atendendo Itaquera e Artur Alvim. “Esta última atenderá áreas da zona leste, hoje servidas pelo Sistema Cantareira, que será liberado para atender os municípios da zona oeste”, diz Araújo.
Sem mananciais
A zona oeste e parte da sudoeste não têm mananciais. Os técnicos estão definindo estudos para captar 4,7 mil litros de água por segundo do Alto Juquiá, no Vale do Ribeira. Para isso, as adutoras teriam de vencer 180 metros de altura. Só no sistema de produção, a obra está orçada em R$ 203 milhões. A previsão é que seja feita em 2011. O local para a construção da estação de tratamento ainda não foi escolhido.
O terceiro alvo dos técnicos é o braço do Rio Pequeno, um dos formadores da Represa Billings. Está prevista a captação de 2,2 mil litros por segundo depois de 2010. As três alternativas permitirão um acréscimo de 12 mil litros por segundo na produção de água. Segundo Araújo, a quantidade será suficiente para atender os 3,6 milhões de pessoas que serão acrescidas à população da Grande São Paulo até 2025.
Uma quarta sugestão, a de captar 15 mil litros de água por segundo do Rio Tietê, a partir da cidade de Barra Bonita, foi abandonada devido aos altos custos do investimento: de R$ 2,5 bilhões a R$ 3 bilhões. O valor não inclui os R$ 75 milhões que seriam gastos por ano em energia elétrica nas bombas elevatórias. “O custo dessa obra causaria um grande impacto na tarifa”, argumenta Araújo.
Ele explica que o encarecimento dos investimentos se deve, em parte, ao fato de a Sabesp ter de ir cada vez mais longe para captar água. “Vinte por cento das despesas operacionais são com energia para acionar bombas de água e de esgoto.”
(Por Mauro Mug, O Estado de S. Paulo, 05/10/2006)
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