Maior problema para expansão de gasoduto é falta de gás
2006-10-06
O diretor-superintendente da Transportadora Brasileira do Gasoduto Bolívia-Brasil, Ricardo Salomão, afirmou nesta quinta-feira que as indefinições sobre a lei do gás não são o principal entrave à expansão da malha brasileira de gasodutos, conforme dizem os defensores da regulação. Na sua opinião, o maior problema do mercado hoje é a falta de gás para desenvolver novos mercados.
"Gás é um mercado como outro qualquer. Se tem quem compra e tem quem vende, vai aparecer alguém para transportar", afirmou. Em palestra promovida pela Câmara Americana de Comércio, Salomão defendeu um mercado menos regulado possível, em um discurso semelhante ao adotado pela Petrobrás, controladora da TBG.
Ele disse que a questão do livre acesso, ponto da discórdia entre a estatal e o autor do projeto, senador Rodolpho Tourinho, não tem impacto nos negócios de um transportador de gás, mas pode prejudicar o carregador (figura que compra e vende o gás), reduzindo o estímulo na busca de novos mercados. O diretor-superintendente da TBG reclamou que a malha brasileira de gasodutos é "elitista", atendendo apenas as regiões litorâneas, mas reconheceu que enquanto a relação entre oferta e demanda permanecer apertada, não serão feitos grandes investimentos.
Ampliação do gasoduto
Salomão, calcula em US$ 800 milhões os investimentos necessários para a ampliação do trecho sul do gasoduto, projeto necessário para atender à demanda de gás na região Sul. O trecho, que sai de Paulínia e vai a Porto Alegre, tem hoje capacidade para transportar 7,3 milhões de metros cúbicos por dia. "Há uma série de distribuidoras desesperadas por mais gás", afirmou o executivo.
O projeto principal prevê a ampliação do trecho para 11 milhões de metros cúbicos por dia, com a construção de 520 quilômetros de loops (pequenos trechos de dutos paralelos à tubulação principal). A capacidade adicional seria atendida por gás natural liquefeito (GNL), importado de outros países e descarregado no Rio.
Uma outra hipótese é trazer o GNL direto para o Rio Grande do Sul, invertendo o fluxo do gasoduto entre Porto Alegre e Santa Catarina, com custos menores. Salomão disse que a ampliação do trecho Sul está em fase de estudos e que ainda não consta dos planos de investimento da TBG, que prevê aportes de US$ 65 milhões entre 2006 e 2007 para aumentar a confiabilidade da tubulação, que vai operar em sua capacidade máxima durante a maior parte do tempo.
Crise boliviana
O diretor avaliou também que a crise boliviana é conjuntural e será resolvida em breve. "Pode levar um mês, um ano ou dois, mas as coisas vão se resolver", afirmou. Em entrevista após a apresentação, o executivo disse que a história prova que situações como essa são passageiras.
O retorno à normalidade nas relações entre Brasil e Bolívia permitirá que a empresa volte a estudar a ampliação total do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), suspensa desde o início do ano. Mas ele frisou, porém, que qualquer decisão levará entre seis e sete anos para funcionar. "Ninguém dá um freio de arrumação como esse que os bolivianos deram e volta ao normal de uma hora para a outra", apontou. O tempo seria necessário para desenvolver novos campos de gás no país vizinho, que sustentassem o investimento na ampliação do duto.
Venezuela
Embora acredite que a Venezuela tem potencial para ser o principal fornecedor de gás da América do Sul, Salomão afirmou que o projeto do gasoduto ligando as reservas venezuelanas à Argentina é muito difícil de ser viabilizada.
Segundo ele, há instabilidades políticas nas duas pontas do duto, grandes dificuldades ambientais e risco de alto custo de transporte. "Além disso tudo, há um fator intransponível: a financiabilidade. O projeto está orçado em US$ 22 bilhões e será difícil obter financiadores com tantos riscos", avaliou.
O projeto está em análise por uma comissão técnica formada por brasileiros, venezuelanos, argentinos e bolivianos. Segundo Salomão, o ideal seria comparar o projeto do gasoduto com a alternativa de transporte de gás natural liquefeito (GNL) por navios, antes de decidir pelo investimento.
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S. Paulo, 05/10/2006)
http://www.estadao.com.br/ultimas/economia/noticias/2006/out/05/268.htm