As cidades de Ilhéus e Itabuna, no Sul da Bahia, possuem índices de radiação ultravioleta (UV) considerados muito altos (níveis 8, 9 e 10) ou extremos (acima de 11) pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Os índices foram obtidos em fevereiro de 2006, dentro do Projeto Integrado de Medidas de Radiação Ultravioleta (Projeto PIU). Desde o início deste ano, o grupo reúne pesquisadores da USP, da Universidade Federal de Itajubá (Unifei/MG) e da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC/BA).
De acordo com a professora Emico Okuno, do Instituto de Física (IF) da USP, a preocupação com esses altos índices é justificada quando se verifica uma relação entre excesso de exposição solar e câncer de pele. A OMS considera os níveis 1 e 2 de radiação UV como baixos; 3, 4 e 5, moderados e 6 e 7 como altos.
Emico lembra que em países com maior incidência de radiação solar, o número de casos da doença também é maior. "A valorização da pele bronzeada é algo totalmente cultural. O bronzeamento é, na verdade, uma reação da pele para avisar que o organismo está sendo agredido".
Trabalho de campo
Durante cerca de quatro dias, os pesquisadores fizeram as medições com um aparelho chamado biômetro que fornece os índices UV. Em julho, foi feita uma nova visita aos municípios. "Queremos verificar como os índices variam entre o verão e o inverno naquela latitude e quais as diferenças encontradas em cidades praianas e não praianas", explica a professora.
Os próximos passos incluem um levantamento dos casos de câncer na região, verificação do grau de conhecimento das pessoas sobre o assunto e promoção de atividades para informar a população sobre os perigos da exposição excessiva ao sol. "Uma das idéias é trabalhar com as crianças do ensino fundamental. Elas acabam levando as informações até suas famílias ajudando na conscientização", afirma a professora Emico. Novas viagens devem ser feitas até o Sul da Bahia nos próximos meses de verão e de inverno. Os primeiros resultados do projeto devem sair ainda em 2007.
Câncer de pele
Dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) mostram que o câncer de pele do tipo não-melanoma tem crescido nos últimos anos. Em 1999, as ocorrências do carcinoma espinocelular (que representa entre 20% e 25% do total) e do carcinoma basocelular (cerca de 70%), chegaram a 35.950 casos. Em 2003, esse número foi de 82.155, subindo para 113.020 em 2005. Os óbitos registrados em 2003 foram de 875. "O câncer não-melanoma, apesar de apresentar uma incidência muito grande, tem um alto índice de cura. Se ele for pequeno, consegue-se removê-lo por meio de cirurgia."
Já o melanoma é considerado o mais grave pelas grandes possibilidades de ocorrer metástase. No Brasil e no mundo, sua incidência costuma ser muito baixa, mas a mortalidade é alta. Segundo o INCA, em 2003 foram 4.370 casos. Destes, 1.125 chegaram a óbito. "Estudos da OMS mostraram que o custo de investimento em material preventivo contra a doença, como folhetos informativos, é de US$ 0,08 por pessoa, enquanto o tratamento chega a US$ 5,70 ", afirma Emico.
A dose faz o veneno
No endereço
INPE/UV, é possível acompanhar, em tempo real, o índice de radiação ultravioleta em todo o Brasil. De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde, para os níveis 1 e 2 (baixo), não é necessário o uso de protetor. Para os níveis 3, 4 e 5 (moderado) e 6 e 7 (alto), além do protetor, é preciso também ficar à sombra em horários próximos ao meio-dia e usar camisa, óculos de sol e chapéu. Já os níveis 8, 9 e 10 (muito alto) e acima de 11 (extremos) recomendam evitar o sol ao meio-dia, permanecer na sombra, usar chapéu, óculos de sol, filtro solar e camisa.
"Em doses corretas, a exposição ao sol é benéfica ao organismo. A radiação solar ajuda na síntese da vitamina D e na fixação do cálcio", lembra Emico. Mas essa exposição deve ocorrer no máximo até as 10 horas da manhã e depois das 16 horas, sempre com o uso de um protetor solar de, no mínimo, fator 15. O produto deve ser aplicado em porções generosas por todas as partes do corpo expostas ao sol, com pelo menos 30 minutos de antecedência. A reaplicação deverá ocorrer a cada 3 ou 4 horas ou quando a pessoa entrar na água ou transpirar.
"O uso de protetor solar deveria ser feito não apenas pelos turistas, quando estes estão nas praias. Mas assim como o uso de proteção auricular é obrigatório em algumas profissões, o protetor solar deveria fazer parte da rotina de inúmeros trabalhadores que passam várias horas do dia com a pele exposta ao sol", defende a professora. "Devia ser um hábito, assim como lavar o rosto pela manhã", finaliza.
(Por Valéria Dias,
Agência USP, 06/10/2006)