Durante esta semana, os países mais ricos do mundo reuniram-se para debater
o problema do aquecimento global. O encontro, realizado em Monterrey, no
México, teve como convidados representantes das quatro maiores nações
emergentes: China, Índia, África do Sul e Brasil. A conferência faz parte do
chamado Diálogo de Gleneagles sobre Mudanças Climáticas, lançado pelo
governo britânico em 2005, quando ocupava a presidência do G8, e teve como
foco a relação entre o consumo de energia e o câmbio climático.
Mas graças às notícias publicadas na imprensa britânica, as questões
energéticas deram lugar à polêmica discussão sobre como evitar as emissões
de gases estufa causadas pelo desmatamento da Amazônia. Segundo reportagem
publicada no Daily Telegraph, o ministro de Meio Ambiente do Reino Unido,
David Miliband, teria afirmado que estaria pronto para apoiar uma iniciativa
de “privatização” da Amazônia como meio de combater as queimadas na
floresta.
A repercussão negativa da proposta, fez Miliband correr para se explicar. Na
terça-feira à noite, em encontro formal com o secretário executivo do
Ministério do Meio Ambiente, Claudio Langone, o britânico afirmou que na
verdade o que dissera é que seu governo está disposto a apoiar planos de
combate ao desmatamento no Brasil. Nesta quarta, Miliband divulgou nota
oficial afirmando que “o interesse do Governo do Reino Unido não é o de
apoiar ou promover a compra da Floresta Amazônica, mas, sim, de trabalhar
com os colegas brasileiros (e outros países) para apoiar o manejo florestal
sustentável”. O resto, foi fruto de uma distorção dos fatos provocada pela
imprensa, disse.
Sinuca
Segundo Langone, o debate sobre o desmatamento não estava previsto para
ocorrer no México, afinal 80% das emissões de gases de efeito estufa provém
do consumo de energia. Mas uma vez que as queimadas entraram em pauta, o
Brasil voltou a defender que os países ricos devem apoiar a proposta do
desflorestamento evitado, apresentada há cerca de um mês em Roma e que
tenta, através do tema de mudanças climáticas, envolver os países ricos na
redução de emissões realizadas em nações emergentes.
Diante do mal entendido com a imprensa, o ministro britânico de Meio
Ambiente resolveu mostrar simpatia pela idéia brasileira. “Acolhi, com
satisfação, a recente proposta apresentada para discussão no âmbito da
UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima) pelo
Brasil, em Roma, sobre incentivos positivos para a redução do desmatamento
(...)”, mencionou em um comunicado à mídia.
Langone, que chefiou a delegação brasileira em Monterrey, disse que nenhum
acordo político foi “aprofundado” para garantir o apoio do Reino Unido à
proposta brasileira no próximo encontro da Convenção da ONU, que ocorrerá em
novembro no Quênia. Mas o comunicado compromete em certo grau o ministro
britânico que, se voltar atrás, pode abrir brecha para novas críticas.
Alto custo
As assembléias ocorridas neste Diálogo de Gleaneagles tiveram como linha
mestra o relatório produzido pelo ex-economista chefe do Banco Mundial,
Nicholas Stern. Encomendado pelo Ministério da Fazenda britânico, o estudo
teve como foco a economia das mudanças climáticas. Resultados indicam que os
danos causados pelo aquecimento global poderão causar prejuízos que passam
da casa do trilhão de doláres.
Mirando na resistência da administração Bush em aderir ao Protocolo de
Quioto, Stern concluiu que quanto mais se demora para agir, maiores serão os
gastos para mitigar os impactos. Regiões pobres serão as mais afetadas. A
África, por exemplo, deve enfrentar uma queda de 12% em suas safras
agrícolas até 2080. Nos altos custos, também foram contabilizados perda de
fontes de água, erosão do solo, entre outros.
Um dos tópicos da discussão sobre o aquecimento é exatamente a relação entre
os países ricos e os emergentes. Houve um painel sobre transferência de
tecnologia onde se colocou a necessidade urgente de se modernizar a matriz
energética da China, que aumenta a passos largos a sua geração de energia
com combustíveis fósseis. Outro ponto com relação às nações em
desenvolvimento é a produção de biodiesel. A importância da substítuição do
petróleo por variáveis como o etanol foi frisada no documento de Stern,
porém não houve qualquer negociação mais intensa entre as nações
participantes sobre o tema. O que frustrou a delegação brasileira. “A
conferência está aquém das nossas expectativas”, analisou Langone.
Em termos gerais, o encontro no México entre as nações mais ricas do mundo
terminou sem uma proposta concreta para combater as mudanças climáticas. E a
chance de se discutir formas de reduzir os desmatamentos nos países em
desenvolvimento – uma importante fonte de poluição atmosférica- foi
desperdiçada.
(Por Gustavo
Faleiros,
OEco, 04.10.2006)