Movimentos e organizações sociais da bacia do São Francisco esquentam o debate entre os candidatos recém eleitos e os que disputam segundo turno. Manifestações, protestos e acampamento estão preparados para essa semana, como ato pelo aniversário do rio, contra o projeto de transposição e marco de um ano da greve de fome do frei Dom Luiz Cáppio.
As atividades iniciaram ontem (4/10) e seguem até sábado (7/10). Em Minas Gerais, mais de duas mil pessoas são esperadas em Belo Horizonte, Pirapora, Januária e Matias Cardoso.
Na região prevista para a construção dos dois canais de tomada de água e que deverá sofrer os maiores impactos - entre o submédio e o baixo - o embate será acirrado. Haverá paralisações, caminhadas e protestos entre Penedo (AL) e Propriá (SE), Brejo Grande (SE), Piaçabuçu (AL) e Petrolândia (PE). Organizações e Movimentos sociais de Petrolina (PE) se juntarão a outros de Juazeiro (BA) em uma caminhada e ato simbólico nas margens do rio.
Em Paulo Afonso (BA), haverá a concentração de representantes de mais de 10 municípios do baixo São Francisco.
De todos os atos sairão ônibus lotados de lideranças e representantes de comunidades tradicionais ribeirinhas - quilombolas, pescadores, indígenas, vazanteiros, fundo de pasto, entre outros - para um acampamento que acontecerá em Cabrobó (PE).
Lá são esperadas mais de quinhentas pessoas de SE, PE, BA, PB, CE, AL e MG, além do litoral de Recife e Olinda (PE). Trata-se de uma formação a partir do tema das manifestações "Em defesa do rio, povo na rua de novo". Serão trabalhados temas como: Revitalização, Transposição, Desenvolvimento do Semi-Árido, Comunidades Tradicionais, Projeto Camponês, Terra, territórios e Reforma Agrária, Uso das águas do São Francisco, e outros.
O acampamento acontece até o dia 6, quando há o aniversário de um ano da greve de fome do frei Dom Luiz Cáppio. No momento haverá ato ecumênico e assembléia popular para unificação de luta e projeto para uma verdadeira revitalização da bacia.
Além do bispo, participam o Ministério Público da Bahia, através da Promotora Luciana Khouri; os Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA - AL, SE, PE, BA, PB e coordenação nacional), dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e dos Atingidos por Barragem (MAB); Comissão Pastoral da Terra (CPT); Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP); Articulação do Semi-Árido (ASA), IRPAA, Universidade Estadual da Bahia (UNEB), Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Coordenação nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), entre outros.
Transposição
O projeto de transferência de águas, como é chamado pelo governo federal, está orçado em cerca US$ 6,5 bilhões, ou seja, mais de R$ 20 bilhões. Apenas com a elaboração do projeto, estudo de viabilidade técnica e análise ambiental já foram gastos R$ 70 milhões.
Conforme dados oficiais do Ministério da Integração, pretende levar água para 12 milhões de pessoas do Nordeste Setentrional, ou quase toda a população da região. Isso através da perenização de rios em Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, a partir de dois canais de tomada de águas: Leste, em Petrolândia (PE) e Norte, em Cabrobó (PE).
Entretanto é denúncia dos movimentos sociais e consta no projeto que, pelo menos 70% das águas servirão para irrigação e apenas 4% para distribuição entre a população difusa. A obra continua embargada sob liminar que deve ser apreciada, ainda esse ano, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Mesmo assim o exército faz a demarcação e abertura de picadas na área do canal leste desde o ano passado. Além disso, já estão sendo oferecidas indenizações para famílias que deverão ser desapropriadas com a construção de cinco barragens para aumento do volume de água, que hoje é insuficiente para verter nos canais.
A preocupação, nesse momento, dos movimentos sociais que são contra o projeto, é com o caráter político e de ganho de votos que já vêm acontecendo desde o início da corrida eleitoral.
(Conselho Pastoral dos Pescadores e Comissão Pastoral da Terra, disponível em
Rios Vivos, 04/10/2006)