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2006-10-04
Após décadas de espera, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) aprovou o primeiro plano de manejo do Parque Estadual da Serra do Mar. Criado em 1977, o parque é a maior unidade de preservação da mata atlântica do País, com 300 mil hectares distribuídos por 28 municípios. A deliberação do conselho foi publicada no Diário Oficial de sexta-feira (29/9).

O plano de manejo é um projeto de ordenamento territorial da região baseado no diagnóstico de especialistas. Segundo a coordenadora de planos de manejo do Instituto Florestal de São Paulo, Adriana Mattoso, o mapeamento do parque foi feito por 50 profissionais e custou cerca de R$ 500 mil. Feito em parceria com o Instituto Ekos do Brasil, o trabalho foi patrocinado pelo governo alemão.

O plano estabelece três tipos de zona dentro do Serra do Mar: de ocupação temporária, histórico-cultural-antropológica e de uso conflitante. A primeira corresponde às áreas ocupadas de forma irregular por posseiros, e representa 5% da área total. Para estas, o plano propõe regras de uso temporário.

As áreas históricas - também 0,5% do território - são as que abrigam comunidades caiçaras e de quilombolas, que vivem há séculos em Picinguaba, município de Ubatuba. A idéia, neste caso, é a mudança da categoria de manejo com o objetivo de permitir que os moradores permaneçam sob regras.

A terceira categoria, a de uso conflitante, que corresponde a 0,73% do território, é composta das áreas que receberam infra-estrutura, como estradas, ferrovias, dutos, linhas de transmissão, estações de tratamento e captação de água e antenas, entre outras. “Essas estruturas têm áreas de manutenção por onde entram os palmiteiros e posseiros, por exemplo”, explica Adriana Mattoso.

O Parque da Serra do Mar está prestes a receber ainda mais invasões do gênero, como a duplicação da Rodovia Tamoios e a construção do Trecho Sul do Rodoanel.

“Por isso que, de certa forma, é um avanço que se tenha um plano de manejo, porém o parque tem pouco a comemorar”, diz o diretor de mobilização da S.O.S. Mata Atlântica, Mário Mantovani. Segundo Adriana, porém, o plano permitiu abrir negociação para que as empresas de infra-estrutura se tornem parceiras na vigilância.

Parque tem 373 espécies de aves
O trabalho de caracterização da biodiversidade do Parque Estadual da Serra do Mar revelou surpresas à equipe que percorreu 21 trilhas da região, em 40 dias de trabalho. “A riqueza natural da área foi a maior”, afirma Adriana Mattoso, do Instituto Florestal.

Neste período, conta, foram registradas 373 espécies de aves – mais da metade do total existente em áreas de mata atlântica –, 111 espécies de mamíferos, sendo 22 ameaçados de extinção, e ainda 1.265 espécies de árvores e arbustos. Três desta categoria ainda não possuem identificação. “É uma riqueza fantástica.”

O encontro de jacutingas, aves da mesma linhagem do jacu, foi um dos pontos altos da caminhada dos especialistas pelo parque, de acordo com Adriana. Isso porque o pássaro depende do palmito nativo, também chamado de juçara, para sobreviver. “A planta, que alimenta mais de 70 espécies, está ficando rara por causa da extração, porque tem bom mercado”, explica Adriana, incluindo na lista de descobertas, também, o macuco.

Além de mapear o parque e ordenar seu território, o plano de manejo propõe um plano de exploração turística.
(O Estado de S. Paulo, 03/10/2006)
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