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2006-10-04
Pela primeira vez, os embarques mensais de soja transgênica pelo porto paranaense de Paranaguá superaram o volume do grão convencional exportado. Em setembro, o volume de soja transgênica somou 249,6 mil toneladas, ante 182,1 mil do grão convencional, de acordo com dados da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap).

O resultado é associado à liberação ao grão transgênico, na segunda quinzena de setembro, de todos os berços destinados ao embarque de soja pelo porto, em respeito a uma liminar concedida pela Justiça Federal a pedido da Aciap, do Sindicato dos Operadores Portuários do Paraná (Sindop) e do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado (Sindapar).

De um lado, a administração do porto agora quer regras para a exportação da soja convencional, para impedir contaminação com transgênicos. De outro, as entidades querem que o porto também permita o embarque dos dois tipos de grãos no mesmo navio. "O porto entende que a segregação precisa ser feita dentro do navio, mas é uma decisão que só depende da vontade dos importadores", diz José Silvio Gore, presidente Câmara Setorial de Terminais da Aciap.

Aciop, Sindop e Sindapar já solicitaram tal liberação junto ao Conselho de Autoridade Portuária de Paranaguá, que deverá avaliar o pedido nos próximos dias. Segundo Gore, os porões dos navios têm compartimentos separados e não há possibilidade de mistura de soja convencional com transgênica. Ele lembra que parte dos navios que carregam em Paranaguá trazem soja geneticamente modificada da Argentina. "A separação faz com que boa parte dos navios parta com espaço vago nos porões".

O porto de Paranaguá embarca soja transgênica desde maio, também obedecendo a decisões judiciais. Sérgio Mendes, diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), afirma que a resistência da administração portuária em liberar o carregamento do grão geneticamente modificado (OGM) levou o porto a reduzir os embarques de soja em quase 1 milhão de toneladas até setembro, em comparação com os primeiros nove meses de 2005.

Nesse período, os embarques por Paranaguá recuaram 18%, para 3,69 milhões de toneladas. Nos demais portos do país, houve expansão de 18% nas entregas, para 21,59 milhões de toneladas. Em Rio Grande (RS), uma das principais alternativas dos exportadores durante o embargo paranaense, os embarques cresceram 579% de janeiro a setembro, para 2,99 milhões de toneladas. "A administração de Paranaguá cria exigências que contrariam as regras do governo federal e só complicam a logística de entrega", diz Mendes. Procurada, a administração do porto preferiu não se pronunciar.
(Por Cibelle Bouças, Valor Econômico, 04/10/2006)

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