Uma forte tempestade no Golfo do Alasca, em outubro de 2005, gerou uma onda oceânica que, seis dias depois, despedaçou um gigantesco iceberg perto da costa da Antártida, a mais de 13.000 km de distância. Uma equipe de cientistas chefiada pelos pesquisadores Douglas MacAyeal e Emile Okal apresentou a evidência ligando os dois eventos, na edição de outubro do periódico Geophysical Research Letters.

Oceanógrafos sabem desde dos anos 60 que um tipo de onda, o swell, pode viajar até o outro lado do mundo. Mas o novo estudo levanta a possibilidade de que tempestades mais freqüentes, desencadeadas por mudança climática, podem afetar pontos distantes do globo.

"Uma das coisas que estamos debatendo agora é se o aquecimento global poderia a tendência de haver tempestades nos oceanos", diz MacAyeal, da Universidade de Chicago. "A questão que fazemos, então, é: poderia a tendência mundial de ocorrência de tempestades ter uma influência sobre o gelo antártico nunca visto antes?"

Imagens de satélite mostram que num dia calmo e de céu claro, 27 de outubro de 2005, o iceberg B15A se partiu em meia dúzia de pedaços. B15A tinha cerca de 90 km de comprimento e 27 km de largura. O iceberg estava equipado com equipamentos sismográficos deixados ali por MacAyeal e colegas.

O equipamento mostrava movimento no iceberg 12 horas antes da quebra, e continuando pelos três dias seguintes. A despeito das condições meteorológicas calmas, o iceberg se moveu 1,5 cm para cima e para baixo, e 12 cm de um lado para o outro. A equipe de cientistas desconfiou que um swell seria a causa.

Usando os dados registrados nos instrumentos para calcular a distância entre o iceberg e a origem da onda, os cientistas chegaram ao surpreendente resultado de 13.500 km. "Ficamos de queixo caído", diz MacAyeal. "Procuramos no Oceano Pacífico e lá, a 13.500 km de distância, seis dias antes, estava a primeira grande tempestade de inverno no Alasca".
(Folha Online, 03/10/2006)
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