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2006-10-03
Apesar dos esforços europeus para reduzir a contaminação ambiental, apenas 15% dos computadores e outros aparelhos são reciclados anualmente na Itália, o que dificulta uma solução efetiva para o problema do lixo eletrônico. O dado é do Consórcio EcoqualIt, que inclui as maiores distribuidoras e importadoras de alta tecnologia na Itália. Segundo seu porta-voz, Stefano Appuzzo, neste país 60% dos aparelhos elétricos e eletrônicos acabam no lixo comum ou nos porões das casas e não há mercado para aparelhos reciclados.

“Hoje, os preços dos computadores são baixos e muito competitivos. Os usuários preferem comprar um computador pessoal novo do que um reciclado, porque a diferença de preços é pouca. O mercado tem dificuldade em promover os aparelhos reciclados”, disse Appuzzo ao Terramérica. Na Itália há cerca de 6,7 milhões de usuários de computadores, fabricados com mais de mil peças. Muitas têm componentes tóxicos, como mercúrio, cromo ou chumbo, que prejudicam a saúde e o meio ambiente. A reciclagem leva tempo, dinheiro e organização. É preciso recolher o material, desmontar as peças, classificá-las, recuperar o que ainda serve e deixar de lado o que não serve. Além disso, a tecnologia cria novos modelos em tempo recorde a encurta sua vida útil. Antes, um computador pessoal durava cerca de dez anos. Hoje, com quatro é considerado obsoleto.

Entretanto, já existem algumas iniciativas. Vários jovens milaneses criaram a sociedade Reciclagem Ética, que vende objetos usados na Internet e também em mercados de antiguidades e feiras locais, para sensibilizar os consumidores sobre os problemas trazidos pelo desperdício. A Reciclagem Ética retira gratuitamente os objetivos jogados fora pelas pessoas, entre elas componentes de computadores como cabos, mouses ou monitores, e os revende a preços baixos. “Os computadores pessoais não deveriam ser comprados, mas alugados. Com isso economizaríamos muito e seria possível usá-los por mais tempo”, disse ao Terramérica o diretor da Reciclagem Ética, Tommaso Cerioli.

Existem 300 empresas dedicadas a recuperar aparelhos elétricos e eletrônicos na Itália. A Progeo Ambiente, por exemplo, criada em 1996, recolhe computadores, desmonta completamente e separa as peças não reutilizáveis das recicláveis (alumínio, cartões eletrônicos, plástico e cabos). “Muitos italianos não sabem como se livrar de seus computadores velhos e nos chamam para ajudá-los. Retiramos e aplicamos as regras para lixo tecnológico: classificamos, separamos e levamos o material perigoso para as instalações especiais dos municípios, que se encarregam de destruí-los”, disse ao Terramérica Loredana Sansone, da Progeo Ambiente.

Entretanto, estes esforços de reciclagem não resolvem o problema do lixo eletrônico. Os computadores são parte das 107 mil toneladas de resíduos eletrônicos e elétricos produzidos anualmente na Itália, segundo a Ecoqual’It. Destes resíduos, 30% retornam aos revendedores, 15% são abandonados e somente 15% são tratados adequadamente. O restante acaba no lixo comum. Na União Européia (UE), das 6,5 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzidas anualmente, 90% são queimadas sem nenhuma classificação.

A UE estabeleceu que os produtores de alta tecnologia devem diminuir a quantidade de substâncias tóxicas e assumir a responsabilidade sobre seus produtos até o final de seu ciclo vital. Porém, em julho, a Itália adiou por um ano o cumprimento das normas da UE sobre Resíduos dos Aparelhos Elétricos e Eletrônicos. Os governos seccionais não estão organizados para a coleta gratuita de lixo ecológico, nem as empresas locais estão preparadas para cumprir essa norma. Tampouco as empresas internacionais que vendem seus produtos na Itália fazem muitos esforços para reduzir os componentes tóxicos nos computadores, embora declarem o contrário.

É o que revela um estudo da organização Greenpeace divulgado dia 17 de agosto de 2005, que analisou 40 componentes de cinco fabricantes: as norte-americanas Apple, Dell e Hewlett Packard (HP), a japonesa Sony e a taiwandesa Acer. Segundo o Greenpeace, os componentes dos computadores da Apple e da HP contêm tóxicos preocupantes. A HP, além disso, diz em seu site que eliminou uma substância contaminante há anos, quando não é verdade, afirma o estudo. “É possível reduzir muito mais as substâncias tóxicas na fabricação de computadores. Necessitamos de regulamentos mais rigorosos que obriguem a substituição de todas essas peças”, disse ao Terramérica Giuseppe Onuffri, do Greenpeace.

Onuffri acrescentou que muitos dos computadores jogados fora na Europa acabam na China ou na Índia, onde as peças são recicladas sem nenhum cuidado para a saúde ou o meio ambiente. A Apple rechaçou as acusações do Greenpeace e recordou que tem uma política ambiental sólida e que foi, e é, líder no campo industrial para a restrição ao uso de substâncias tóxicas na produção de aparelhos elétricos e eletrônicos.
(Por Francesca Colombo, Terramérica, 02/10/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=23038&edt=1

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