Lobby entre congressistas e indústria do petróleo tenta modificar legislação para agilizar licenciamentos ambientais
2006-10-02
O novo Congresso Nacional vai assumir em 1º de janeiro já sob a pressão de um lobby que, em
qualquer lugar do planeta, se revela praticamente imbatível. A indústria do petróleo articula
um movimento junto aos congressistas para modificar a legislação ambiental brasileira. O
objetivo, segundo os empresários, é tornar mais ágil o processo de licenciamento de grandes
projetos sem prejuízo do respeito às melhores práticas ambientais.
O presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás Natural (IBP), João Carlos de Luca,
adverte que a intenção do movimento é evitar um futuro sombrio, literalmente, para o
abastecimento de energia do País. Diante de um cenário de possível escassez energética em 2010
- há especialistas que consideram provável -, torna-se urgente a necessidade reduzir o prazo
médio de licenciamento de empreendimentos exploratórios e de transporte de gás natural. "O
objetivo desse movimento não é atenuar o rigor das normas ambientais brasileiras, mas criar
uma sistemática no processo de licenciamento que garanta maior previsibilidade ao negócio",
esclarece o presidente do IBP. "Os empresários nesse setor não podem ficar sem saber por
quanto tempo terão que esperar para poder viabilizar os projetos. Isso não significa reduzir o
rigor ambiental, mas tornar o processo mais técnico e menos sujeito a fatores estranhos à
análise econômica e tecnológica.
Pelo menos um ponto já foi identificado como passível de aperfeiçoamento na legislação, por
meio dessa cruzada. É justamente aquele que diz respeito à possibilidade de criminalização de
funcionários dos órgãos ambientais que tenham licenciado projetos sensíveis do ponto de vista
ambiental.
Em caso de acidente com um gasoduto ou oleoduto, por exemplo, a legislação brasileira permite
a responsabilização criminal do fiscal ou funcionário responsável pelo licenciamento deste
projeto. "Quem vai querer assinar a licença ambiental de um empreendimento, sabendo que pode
vir a responder criminalmente caso venha ocorrer algum tipo de acidente com ele", questiona De
Luca, que acumula a presidência da subsidiária do Brasil da petroleira hispano-argentina
Repsol YPF.
O movimento, que já era articulado há meses, consolidou-se na última Rio Oil & Gas, feira
bienal do setor de petróleo, encerrada no último dia 14 de setembro, no Rio de Janeiro. Na
ocasião, consumou-se entre os participantes do evento o consenso sobre a urgência de se
eliminar o entrave ambiental, que hoje constitui gargalo tanto para o segmento de óleo e gás
quanto para o de energia elétrica.
Com o agravamento da situação do abastecimento de gás, em decorrência da nacionalização das
reservas da Bolívia, o licenciamento ambiental ganhou uma nova urgência, justifica De Luca. A
meta de ampliação da produção brasileira de gás, dos atuais 20 milhões de metros cúbicos/dia
para 50 milhões de metros cúbicos/dia, exige que o País acelere os projetos de gasodutos.
Disso dependerá não só o abastecimento da indústria, adverte o executivo, como também do
mercado residencial.
Embora vá ser lançado ainda este ano, o movimento capitaneado pelo IBP terá que esperar a
eleição do novo Congresso Nacional. Até porque, pesquisas revelam uma expectativa, em todo o
País, de uma renovação de mais da metade dos parlamentares.
A Rio Oil & Gas reuniu, em seus quatro dias, 4 mil congressistas (1 mil a mais do que na
última edição, em 2004), além de 800 expositores em um espaço de 12 mil metros quadrados.
Segundo dados divulgados pelo IBP, foram gerados 12 mil empregos e R$ 100 milhões em novos
negócios entre operadoras petrolíferas e fornecedores brasileiros de equipamentos e serviços.
(Por Ricardo Rego Monteiro, Gazeta Mercantil, 02/10/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=9%2c0%2c1%2c231420%2cYTRE#