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2006-10-02
A biodiversidade amazônica é reconhecida e representada por inúmeras formas, cores e texturas. Para a ciência, construir um banco de dados representativo de todas as espécies de animais da região é sinônimo de soberania e progresso. E é essa a grande contribuição dos acervos e coleções científicas, berços de um patrimônio ainda pouco conhecido pela população. No Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), mais especificamente em sua Coleção de Aves, são resguardados testemunhos da fauna de pássaros da Amazônia que já se encontra na casa dos mil exemplares tombados, contando com essa mesma cifra ainda armazenada à espera de identificação.

“As aves são relativamente conhecidas pela comunidade científica. Existe um número manejavel de espécies. Em 10 anos de pesquisa, descobrimos 15 novas espécies que ainda estão em processo de descrição. É um número alto”, diz o curador da Coleção, Mario Cohn-Haft, doutor em Zoologia e especialista em biogeografia das aves amazônicas. Ter o privilégio de descobrir uma nova espécie, muitas vezes, é fruto de uma situação calcada na sorte ou na coincidência. No entanto, atualmente, a ciência já se utiliza de algumas ferramentas a fim de dar um caráter mais previsível ao trabalho científico. Assim, os projetos de pesquisa já estão sendo direcionados a lugares que têm potencial para novas descobertas.

“Um recurso que ajuda muito nesse processo são as imagens de satélite que nos mostram detalhes sobre possíveis áreas de pesquisa. Outra ferramenta importante é a Bioacústica”, ressalta o pesquisador. Em campo, os pesquisadores gravam o canto de quase todas as aves encontradas. Por cada ave coletada (também com sua voz gravada) são armazenados cantos de centenas de bichos, porque a floresta em si transborda de tanta vida.

Agregado à Coleção, criou-se, portanto, um acervo de sons. São mais de 500h de sons gravados ao longo de uns 20 anos de trabalho de campo, dentre as gravações feitas pela equipe e as doadas por outras Instituições e pessoas.

Em sua tese de doutorado, Cohn-Haft estudou as diferenças existentes entre as vozes de pássaros considerados da mesma espécie, mas de regiões distintas. Especulava-se que esse fenômeno fosse, numa analogia ao comportamento humano, uma espécie de “sotaque”, ou seja, varia de lugar pra lugar, mas continuamos sendo Homo sapiens. Por meio do banco de tecidos, foi possível analisá-los geneticamente. O resultado não foi outro: vocalmente diferentes, espécies diferentes. Essa descoberta pode revolucionar as estimativas apontadas pela ciência quanto ao número previsto de espécies de aves na Amazônia. Para Cohn-Haft, os 1200 propostos podem facilmente dobrar. “Subestimamos a biodiversidade amazônica, já conhecida como a mais rica do mundo. Mas é muito mais do que achávamos”, revela.

Nessa linha de ação, a equipe da Coleção prevê a produção da primeira de uma série de sete coletâneas de Cds de cantos de pássaros, dividida por regiões da Amazônia. Esta primeira, sobre a região ao Norte de Manaus, inclui vocalizações de 400 espécies de aves. O projeto foi submetido ao comitê científico da Editora do Inpa e a expectativa é de que até o final do ano o produto esteja finalizado.

Os cuidados com o acervo - Segundo a bióloga e gerente da Coleção, Ingrid Macêdo, entre 2001 e 2006, foram agregados ao acervo 768 novas “peles”. No meio científico, esse é o nome que se dá aos exemplares que passaram pelo processo de taxidermia, ou seja, que foram empalhados. Trata-se de um método indicado aos casos onde a aparência original do animal é fundamental para a sua identificação. Ele funciona da seguinte forma: ainda em campo, os pesquisadores tiram a pele da ave, a mesma é salgada, enrolada em um algodão e conservada; são guardados também o crânio, ossos das asas, pés e pernas do animal. No laboratório, a estrutura da ave é reconstruída. Além dessa técnica, as aves podem ser conservadas em via líquida ou em forma de esqueleto.

“Existem poucos casos de laboratórios que armazenam os animais em meio líquido, principalmente, porque não é conveniente. A coloração das aves é uma das principais características de identificação da espécie e muitas vezes a ação do álcool acaba modificando as cores”, explica Cohn-Haft. O ideal é que essa alternativa seja utilizada somente em alguns poucos exemplares de cada espécie para possível estudo da musculatura e outros aspectos da morfologia interna.

O processo de preparo do material a ser adicionado ao acervo é padronizado e obedece a uma rotina. Além do curador e da gerente, a equipe que mantém e gera conhecimento para o espaço é formada por uma bolsista de pós-doutorado, duas bolsistas mestres, uma de iniciação científica, três estagiários e cinco estudantes de pós-graduação em ecologia e genética. As aves, capturadas em campo por meio de redes ou a tiro, além de receber tratamento in loco pela equipe, passam por uma seção de “fumigação” (para livrar o material de quaisquer parasitas) na qual são submetidas a temperaturas abaixo dos -20º C. Em seguida, são tombados. Durante o empalhamento, que representa a quarta etapa, são coletadas amostras de conteúdo estomacal (a serem armazenadas em álcool) e de tecido (do peito, fígado e coração). Esse procedimento é feito ainda em campo.

“Possuímos um banco de tecido de aves para fins de estudo genético, seqüenciamento de DNA. As amostras são conservadas em nitrogênio líquido, quando a equipe está em campo, a aproximadamente -200º C. Elas podem ser mantidas no nitrogênio ou depois guardadas em um freezer especial (a -70º C) para sempre. É importante que se entenda que ninguém gosta de matar um pássaro. Por isso, quando um é sacrificado deve ser dispensado a ele a maior utilidade possível, sendo o preparo do material feito da forma mais digna”, reforça o pesquisador.

Durante o preparo das aves, Cohn-Haft explica que é comum encontrar ecto ou endoparasitas junto aos animais. Como a maioria deles é específica de cada hospedeiro, é provável que eles sejam espécies novas. Em detrimento de seus parasitas (que encontram-se na casa dos milhares), as aves têm uma representatividade bem menor no meio ambiente. Estima-se que em toda a Amazônia existam 1200 espécies. Só no acervo, já estão identificadas 281.

“Acreditamos, portanto, que a Coleção de Aves contribui diretamente para a geração de conhecimentos na área, através da presença de exemplares, gravações de sons, banco de tecidos para identificação das espécies”, salienta Cohn-Haft. Outras Instituições, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e a Universidade do Estado de São Paulo, USP, (possuidores das maiores coleções de aves do País), encontram-se numa ordem de grandeza superior à Coleção do Inpa, principalmente, por terem iniciado suas atividades há muito mais tempo. Para compensar, a equipe do Inpa prima pela riqueza e qualidade de informações e materiais ligados a cada exemplar. “Só estamos há uns cinco anos na ativa, mas somos uma equipe moderna e motivada. Isso se reflete numa taxa alta de crescimento. Temos sempre novidades a apresentar”, destaca o pesquisador.

Padrão de identificação das aves - Constam em cada ave identificada as seguintes informações: localidade (associada às coordenadas geográficas medidas com GPS), a data da coleta, o peso do animal, as cores das partes nuas (não cobertas pelas penas), a caracterização e medidas das gônadas (órgãos sexuais dos animais), descrição do conteúdo estomacal, dados referentes à muda de penas, acúmulo de gordura (retratam as condições de saúde e de crescimento da ave) e ossificação do crânio (para estimar a idade), a presença ou não de parasitas e a descrição do habitat e a interação da ave com o mesmo (encontrava-se associado a bandos, se vive só etc.). Existe um projeto que prevê a consolidação de um grande banco de dados integrado e inter-relacionado, a ser disponibilizado pela Internet.

“A Coleção não é um depósito. Ela é uma prestadora de serviço à sociedade e à comunidade científica, como uma biblioteca. Estamos trabalhando segundo o tripé prestação de serviço, pesquisa e ensino”, finaliza Cohn-Haft.
(Por Grace Soares, INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, 29/09/2006)
http://www.inpa.gov.br/noticia_sgno.php?codigo=189

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