Multiplicidade de combustíveis: um marco de independência ao petróleo na Europa
2006-10-02
A multiplicidade de combustíveis passará a ser adotada em pouco tempo na Europa. Em vez de carros só abastecidos a gasolina ou diesel, os europeus passarão a adotar a tecnologia flex fuel em automóveis que rodarão com álcool, gás, gasolina, eletricidade, diesel, biodiesel e, num futuro não muito distante, hidrogênio.
É o que pensam técnicos ouvidos por este jornal no Salão Internacional do Automóvel em Paris. Das seis alas do evento na capital francesa (cada uma do tamanho do Anhembi, onde é realizado o salão brasileiro do automóvel) uma foi destinada para apresentar carros movidos por combustíveis alternativos. Afora a alternativa da energia em si, a nova tecnologia ajudara a diminuir as partículas de poluentes, mais do que preocupação, uma exigência das autoridades da Comunidade Européia.
Apresentado como uma das novidades no evento, o carro abastecido a álcool terá uma forte concorrência de outras fontes de energia, principalmente, pela dificuldade que a Europa tem em produzir o combustível vegetal com suas delimitações de áreas agricultáveis. A previsão é que no ano que vem 50% dos carros vendidos no continente já tenham a tecnologia do bicombustível. Atualmente, 70% dos automóveis vendidos na Europa são movidos a diesel, o restante roda a gasolina. O diesel é 25% mais econômico que a gasolina, por isso a preferência. Em razão da grande procura, a gasolina sobra na Europa, na medida em que o diesel passa a ser usado em larga escala.
As marcas francesas apresentaram no Salão carros com a tecnologia do flex-fluel. O CEO da Nissan-Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, prometeu as primeiras vendas de carros bicombustíveis para o mercado francês até o inicio de 2007. A partir da experiência da Renault brasileira, ele quer 50% ou mais das duas montadoras que representa oferecendo carros flexíveis ao público europeu.
Na Franca, a Renault detém cerca de 28% do mercado de automóveis, sendo superada pelo grupo PSA Peugeot-Citroën, que detém cerca de 30% das vendas. "Com as tecnologias em desenvolvimento, o carro diesel-elétrico terá um consumo de 3 litros por cem quilômetros, com baixíssimos índices de poluição", afirmou François Garcia, diretor de mercado da Rhodia, na França. A empresa dele desenvolve uma tecnologia de catalisadores eletrônicos que ajudam a diminuir as partículas de poluentes na atmosfera.
Auxiliado por um aditivo, que dura 240 mil quilômetros, o equipamento reduz drasticamente os índices de po-luentes, alcançando o que determina a norma Euro 4, que prevê a emissão de 140 gramas de CO² por quilometro. "O futuro será a convivência de vários combustíveis, como vocês já fazem lá no Brasil. O mundo não conviverá mais com veículos abastecidos com um só tipo de energia", afirmou Garcia.
Ele disse que, no caso do álcool, o Brasil poderia ajudar em parte no abastecimento da Europa, mas também existe interesse de produtores locais na extração do etanol - atualmente produzido a partir da beterraba. O governo francês, com base na experiência brasileira, estuda um programa do etanol.
Dois mil postos de gás
Outro produto que começa a surgir na França é o GNV e GLP. Já existe uma rede de abastecimento de 2 mil postos em todo o território francês para o gás - a rede convencional de gasolina e diesel engloba 12 mil pontos de atendimento. O governo local incentiva o uso do combustível financiando a conversão, que custa entre € 2,5 mil € 3 mil.
O gás combustível utilizado no país vem da Argélia, Noruega, Rússia, Arábia Saudita e parte da própria França. "É uma fonte de abastecimento que tende a crescer ainda muito na Europa, porque e uma energia barata, renovável e limpa", acredita Dominique Sérafini, diretor da Totalgaz, empresa francesa. "É mais uma fonte de energia na diversificação dos combustíveis para os veículos rodantes.
(Gazeta Mercantil, 02/10/2006)
http://www.gazetamercantil.com.br/integraNoticia.aspx?Param=22%2c0%2c1%2c231717%2cUIOU