Terra pede socorro: temperatura do planeta em 2006 pode bater recorde que já dura um milhão de anos
2006-10-02
A Terra pede socorro. E cientistas lançam um alerta: a temperatura média do nosso planeta em 2006 pode bater um recorde que já dura um milhão de anos. Nasa estudou as variações de temperatura na Terra e constatou que nas últimas três décadas o aquecimento global se acelerou. Já está forçando várias espécies de plantas e animais a se deslocarem em direção aos pólos.
Ron Miller, cientista da Nasa, disse que os especialistas analisaram todos os motivos. Inclusive a quantidade de radiação solar que chega à Terra e a atividade dos vulcões. Mas foram forçados a concluir que a única mudança capaz de ter um impacto tão grande na temperatura é a composição da atmosfera.
O homem é o grande culpado, porque lança no ar dióxido de carbono e outros gases que criam o chamado efeito estufa, impedindo o calor de escapar para o espaço. O carvão queimado em usinas, o gás carbônico que os carros emitem quando queimam gasolina, são alguns dos grandes responsáveis pelo efeito estufa.
Os Estados Unidos continuam sendo os campeões mundiais da poluição. Os dados mais recentes são de 2004. E mostram que, naquele ano, os americanos lançaram 6,3 bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera. E o que é pior: esse número vem crescendo todo ano.
Mas nem todo americano sabe que vive no país que mais polui.
"É a Rússia", arrisca uma mulher.
"Deve ser a China", diz a outra.
Um homem joga a culpa na Índia.
“Índia!”.
O três dirigem um dos maiores inimigos do combate ao efeito estufa: os utilitários. Carros que queimam quase o dobro da quantidade de gasolina por quilômetro rodado do que um carro de passeio comum. E por isso, emitem muito mais gás carbônico no ar. O governo do presidente George Bush se recusou a assinar o Tratado de Kyoto, que obrigaria o país a reduzir a emissão dos gases que provocam o efeito estufa.
Representantes do Partido Republicano até duvidam das conclusões dos cientistas.
Jim Inhofe, presidente do Comitê de Meio Ambiente do Senado, disse que as variações de temperatura, na Terra, são obra de Deus. E que os alarmistas estão tentando assustar a população.
Mas outros dois republicanos romperam com a linha do partido. Na Califórnia, o governador Arnold Schwarzenegger quer exterminar a poluição, hoje, para garantir o futuro do planeta. E aprovou uma lei inédita no país. Ela cria um limite estadual para a emissão de gases na atmosfera. O volume terá que cair 25% nos próximos 14 anos.
Em Nova York, o prefeito Michael Bloomberg, que também é republicano, decidiu transformar a cidade em líder nacional do meio ambiente. Vai medir as emissões de gás carbônico em vários bairros e analisar, com cuidado, o consumo de energia para ver como seria possível conservar.
Dez estados americanos - entre eles Califórnia e Nova York - entraram na justiça contra o governo federal, exigindo que ele estabeleça um limite nacional para a emissão de dióxido de carbono na atmosfera.
É um começo. Mas para frear a rapidez com que o aquecimento global está avançando, vai ser preciso mobilizar o país inteiro. E o resto do planeta, que está pedindo socorro! Quem dá o alerta é o ex-vice presidente dos Estados Unidos, país que é o principal responsável pelo aquecimento global.
Ele se apresenta dizendo que "já foi o próximo presidente dos Estados Unidos". A platéia sempre ri, mas muita gente tem vontade de chorar. Afinal, Al Gore quase ganhou a eleição para presidente em 2000, mas quem levou foi George W. Bush.
Nesta entrevista exclusiva dada ao Fantástico, em Nova York, Al Gore conta que foi um golpe muito duro perder a Casa Branca. Ele decidiu abandonar a política. Hoje, se descreve como um "político em recuperação".
O jeito que ele encontrou para dar a volta por cima foi se dedicar a uma causa: a luta contra o aquecimento da atmosfera.
De vice-presidente e candidato derrotado a astro de Hollywood. Essa é a trajetória de Al Gore. O filme que ele lançou este ano – "Uma verdade inconveniente" – está em cartaz há quatro meses. É um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos.
O documentário é uma aula. Al Gore mostra imagens da Terra e explica o que está acontecendo. Se em, no máximo, dez anos não houver uma mudança radical no estilo de vida dos países ricos, o gelo da Antártica e da Groenlândia vai derreter, e o nível da água dos oceanos vai subir e inundar as áreas costeiras, desabrigando centenas de milhões de pessoas. Todo o clima do planeta será alterado.
Catástrofes provocadas por furacões e grandes secas serão comuns. O alerta vem sendo dado por cientistas há 30 anos. O próprio Al Gore fala disso desde os anos 70. Ele assinou o Tratado de Kyoto, pelo qual os países ricos se comprometem a reduzir a emissão dos gases que aquecem a atmosfera. Mas o presidente Bush rasgou o tratado.
Os Estados Unidos contribuem com mais de 30% do aquecimento da atmosfera.
O país nada tem feito para reduzir a poluição. Os americanos dirigem carros cada vez maiores e queimam mais combustíveis.
Al Gore está otimista. Acha que a opinião pública está virando contra os poluidores. A destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina serviu para acordar os americanos, para o que vai acontecer se o aquecimento global não for interrompido.
Muitos americanos gostariam de votar em Al Gore para presidente na próxima eleição, daqui a dois anos, mas ele insiste que não é candidato – prefere se dedicar a buscar soluções para a crise do clima. Em outubro, ele vem ao Brasil. Elogia o país pelo programa do álcool, mas adverte que as queimadas na Amazônia contribuem para o aquecimento da atmosfera. A saída, para ele, é valorizar a floresta – explorar remédios e outros produtos derivados da Flora Amazônica.
Al Gore ama o Brasil, que já visitou muitas vezes. Compartilha com os brasileiros o amor pela Terra – o planeta que, se não fizermos alguma coisa agora, não será nunca mais o mesmo para os nossos filhos e netos.
(Site do Programa Fantástico/Rede Globo, 02/10/2006)
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